quinta-feira, 31 de julho de 2008

RASURA DESTILADA

Destile todo seu ódio através da caneta. Todo aquele inconformismo, toda raiva, aquela carga acumulada. Um grito sufocado, uma resposta ou palavra não dita, uma frase mal interpretada, o soco esquivado, o cuspe desviado. Sempre tem uma pedra no meio do caminho que precisa ser chutada. Sempre surge aquela “persona” inconveniente a ser premiada com uma vulgar exibição de violência.

Eu encontrei nas palavras a minha arte marcial e a língua é o meu canivete. Descobri que as palavras são tão cínicas quanto singelas. Como sempre acreditei piamente no fato de que todo texto escrito é passivo de interpretação, fiquem á vontade. Sei que tenho a liberdade cínica de dizer: “mas não foi isso que eu quis dizer”!

Encontre a face a ser batida. O discurso a ser violado. Se alguém verá não importa, como também não importa como você atingirá ou o que será dito ao seu alvo. O que vale é atingir, incomodar, irritar. A válvula de escape é um bom remédio pra curar certos carcinomas. Todo mundo vive sua via crucis e necessita de catarse.

Lave a alma, respire fundo, tome um drink. Então, destile todo seu ódio na ponta das mãos, das línguas, das canetas... Mas sempre tome cuidado pra não acordar a vizinhança. O silêncio também vale como resposta.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

MÉNAGE AMIS

Já não havia muitas esperanças para Gustavo. Mais uma noite de sábado em casa, duro, sem perspectivas de noitadas regadas a biritas e uma possível sacanagem. Sua tristeza alternava momentos de aflição, pois toda vez que isso acontecia, tinha a ligeira sensação de que deixava de curtir a vida. Gustavo foi para a janela e observou, melancólico entre um cigarro e outro, o mar de luzes dos prédios e bairros vizinhos que se estendia além do Grajaú, Lins, Méier...luzes piscando nos prédios...nas favelas...carros passando, e mais luzes... Pensava na possibilidade de descer e pegar um ônibus ou qualquer coisa que o levasse mais rápido para um lugar e encher o pote. Não gostava de imaginar a boemia pulsante pelas ruas do Rio sem o ar da sua graça, pois a aflição o consumia ainda mais. Isolado no subúrbio. Longe demais das capitais.

Decidiu ligar para os amigos. Quando um não estava a fim de sair, outro teria que acordar cedo, isso sem citar aqueles que já estavam na rua. Os que estavam namorando, nem valia muito gastar impulsos telefônicos, pois sabia qual era a resposta. A sua angústia aumentava quando ele olhava para a sala de estar e presenciava a decadência: velhos sonolentos assistindo programas humorísticos de piadas imbecis, vencidas e sem graças na TV. “A TV é um lixo”, resmungou. Ficar no computador? Impensável! Sentia-se mal só de pensar, mas era a saída mais plausível para fugir do terrível monstro chamado tédio. Foi quando então seu celular milagrosamente tocou.

- Oi Gustavo, aqui é o Marcio! Anda fim de fazer alguma coisa?

- Porra, você salvou a minha noite de sábado! Vamos sim! A ultima coisa que eu quero é ficar em casa! Não agüento mais! Você me salvou aos quarenta e cinco do segundo tempo!

- Apareça lá em casa! Minha mãe foi numa festa em Nova Iguaçu e volta só amanhã de manhã. Vamos tomar umas cervejas, ver uns filmes, ouvir musica, enfim, se divertir um pouco.

Gustavo então desceu a rua todo sorridente, pegou um ônibus e chegou antes do previsto. Teve a sorte de pegar um 607 descendo a zona norte na velocidade do som (era a última viagem do motorista, que era a cara do Viola). Lá estava Marcio o esperando com o seu arsenal de DVD e cerveja. Podia não ser a coisa perfeita, mas valia a intenção. No inicio, Gustavo ficou um pouco sem graça, pois foi recebido pela namorada do cara. A empolgação para sair de casa foi tanta que ele nem se lembrou desse detalhe. Mas já era. Gustavo perguntou se tinha algum problema, se estava atrapalhando alguma coisa. Marcio disse que não. Inclusive Natália havia apoiado a idéia. Estranho, mas...

Natália é uma loirinha muito simpática, divertida e gostosa. Ela tinha uma mania de balançar os cabelos repicados, parecia até comercial de xampu. Estava com uma blusa vermelha, decotada, uma minissaia jeans e pés descalços. Quando ela sentava e juntava suas pernas, era irresistível não olhar. Eram pernas torneadas, coxas grossas e brancas, perfeitas para carícias. Marcio é gente fina, gosta de inventar coisas do nada e tem um jeito meio panaca. Aliás, era justamente esse jeito meio Michael Palin que fazia dele um cara divertido.

Assistiram a um filme de suspense. Serial Killers. Os três adoravam. Cervejas e pipocas na sala. Gritos, sangue e terror na tela. Paisagens sombrias, pântanos (aqueles bem típicos do sul dos states), neblinas, cadeiras elétricas, jaulas, doentes mentais e muita insanidade. Depois do filme, começaram as conversas sobre cinema. Natália entendia muito de cinema e adorava Almodóvar. Já Marcio era fã incondicional do Tarantino. Para relaxar mais, Marcio então colocou uns CDs novos que havia comprado e queria mostrar para o seu amigo. Faltavam três pra ele completar a coleção do Rush.

Natália saiu da sala por uns instantes. O papo entre os dois mudou de rock para sexo em questão de segundos. Coisas do mundo masculino. Marcio perguntou se o amigo tinha algum filme pornô novo pra emprestar e então mostrou suas novidades. Gustavo estava com três caixinhas de CDs no colo quando Natália voltou. Ela reparou que Gustavo ficou sem graça e, pra quebrar o gelo, sugeriu que pusesse o tal filme.

Marcio atendeu o pedido inusitado da namorada. Lindas atrizes em orgias alucinantes em cidades oníricas como Paris, Berlim e Praga. Os filmes europeus tinham um charme e um erotismo mais acentuado. Palavras do casal. Todos prestaram atenção no filme por alguns minutos. A partir daí, a conversa girou em torno de sacanagens. Era mais um confessionário de loucuras e fantasias do que os três já fizeram do que uma simples conversa. E muitas gargalhadas. No caso do casal, eles falavam as intimidades em folha corrida. Sem cortes, nem censuras. Isso instigava o tesão e a imaginação de Gustavo, que botava mais lenha na fogueira, contando suas peripécias eróticas.

Natália então sai da sala estrategicamente e Marcio dispara:

- Você já participou de um ménage? Que você acha? Na pilha de fazer um hoje? - Ele ficou espantado ao ser indagado. Não esperava que a sua noite de sábado prometia tanto.

- Cara, já fiz uma vez. (Mentira) Eu até topo, mas depende de vocês. Eu não quero deixar uma impressão de...

- (Interrompendo) Fica tranqüilo. Converso com ela há tempos. Eu já esquematizei tudo hoje. Pensei que você daria pra trás, por isso que não avisei que estava sozinho com ela aqui. Mas o pacto é o seguinte: sigilo absoluto e nada de beijo na boca, porque você sabe, sou muito ciumento. O resto você pode tudo.

Ela então volta, Marcio insinua e ela avisa:

- Depende de vocês... Eu não sei. (típico charme feminino. Estava doida pra fazer uma sacanagem, mas precisava da insistência masculina. Coisa de mulher). Poxa é muita loucura, né?

Natália então saiu novamente da sala, foi tomar banho e voltou para a sala só de lingerie preta. Marcio então pede pra Gustavo pegar uma camisinha, já que a namorada havia esquecido. Força do hábito. Quando voltou para a sala, o casal já estava no “warm up”.

Os minutos corriam na mesma proporção em que os corpos esquentavam. Ela não teria muito descanso. E também não ligava. Ela se revelava insaciável e animada em realizar uma fantasia. Não só a do namorado, como também a dela. Adorava ter dois caras ao seu dispor e não importava se estava no comando, ou se era dominada. Queria levá-los á lona e tinha talento de sobra pra isso. Na sala deixou os caras brincarem: abriram as pernas, davam belo banho de língua por todo seu corpo.

A luz que vinha do corredor entrava naquela sala escura como um feixe amarelado, produzindo uma iluminação indireta, valorizando ainda mais as silhuetas, a pele lustrosa, arrepiada e os contornos. A visão que Gustavo tinha do corpo de Natália era exuberante: seu busto carnudo e branquelo fazia cada vez mais movimentos ofegantes na medida em que ele a beijava, sugava e tocava. O silêncio era quebrado pelas respirações ofegantes e gemidos sufocados e esparsos.

Gustavo penetrava em Natália quando surgiram uns barulhos estranhos vindos do corredor. Passos e portas batendo: a mãe de Marcio estava chegando em casa. Também pudera, já passavam das 4 da manhã. O clima de filme pornô vira comédia pastelão em segundos. Eles então saem correndo em direção ao quarto de Marcio de forma estabanada. Gustavo pegou seu jeans e suas roupas, mas deixou cair logo a cueca, no corredor. Marcio vestiu seu jeans e teve que fazer sala para a própria mãe, desconfiada, tentando disfarçar ao máximo o que estava acontecendo.

Enquanto isso, Natália e Gustavo tinham ataques de riso no quarto. Risos sufocados, claro. Ela fechou a porta do quarto, ligou o ar condicionado e a TV. Ficaram esperando Marcio, que dava atenção á mãe. “A festa foi muito boa, você devia ter ido meu filho! Você nunca mais visitou seus primos em Nova Iguaçu!” As frases chegavam ao quarto e quanto mais a mãe de Marcio falava, mais eles riam, tentando imaginar a impaciência dele. Depois de longos minutos, a mãe de Marcio vai dormir e ele volta pro quarto para continuar a travessura.

Depois do susto, era hora de recompor a brincadeira. Desta vez a iluminação vinha da frieza azulada da TV. Quarto trancado, o ar condicionado ligado e agora, a MTV passando clipes raros e de boa qualidade (pois todos sabem que a sua programação é uma grande merda!). Enquanto rolava Sisters of Mercy e outras coisas do mundinho dark oitentista, Marcio mandava Natália transar com o amigo. Ele era um voyeur assumido e inveterado.

Natália então monta em cima de Gustavo e começa o seu show. Monta, cavalga, rebola, chupa, senta, cospe, bate, lacera, se excita. Arranha o corpo do amigo e põe a mão na boca. Ela agora é quem dominava. Apesar do quarto fechado, do ar condicionado e da TV, poderiam ouvir os gemidos e os barulhos. E como todo mundo sabe do que se trata quando escutam esses barulhos... Ainda mais na quietude absoluta da madrugada.

Depois de uma bela dupla penetração e diversões sem culpa, Gustavo vai á lona e sai de cena. Agora era a vez do “elemento externo” ver o casal em ação. Os dois adoravam saber que estavam sendo observados. Transavam como se tivessem fazendo um filme erótico, mas desta vez, estavam a uma distância medíocre do espectador. O espectador ali era interativo, podia inclusive participar daquela cena. Mas ao invés disso, preferiu assistir a bela cena dos dois transando. Todos estavam excitados na mesma sintonia.

Enquanto eles transavam, os pensamentos de Gustavo corriam em velocidade sônica. Tentava percorrer mentalmente a trajetória que o levou até o presente momento. Imagens e nuances confusas e frenéticas invadiam este tal percurso, entre um cigarro e outro. Não há como controlar o fluxo do pensamento. Era realmente curioso ver como as coisas mudavam de uma hora para outra. Sentia-se como um rei, sentado numa cadeira confortável, vendo os dois amigos se amando loucamente, entre gemidos, mordidas e arranhões, enquanto divagava. Acendeu mais um cigarro pra relaxar. Ele alternava ver a performance do casal e os clipes da TV. Tudo aquilo também fazia a sua mente viajar a pensamentos distantes. Imaginava e constatava como a vida era surpreendente. Horas atrás estava reclamando, aflito, por não se divertir na noite de sábado e agora, estava no meio de uma orgia entre amigos. Jamais imaginaria viver essa situação. Também não imaginava a prova de amizade do casal.

Gustavo despertou de suas divagações ao ouvir o orgasmo de Natália. Já havia fumado uns três cigarros. Os olhares eram confidentes. Sérios. Penetrantes. Apesar de tudo, Marcio e Natalia se amavam. Eles separavam o amor da sacanagem sem problemas. Paixão e erotismo sempre formaram uma bela dupla.

No mais, o trio se revelou bem entrosado. Desencanado. Afinal, não se deve convidar qualquer pessoa para um ménage, é necessário analisar o candidato (ou a candidata) como se estivessem concorrendo a uma vaga de emprego. Rigor, confiança, enfim, nem vale descrever isso aqui. Sabiam que teriam que guardar segredo pra sempre. Assim, a amizade deles entrava numa esfera mais profunda. A troca foi perfeita: Natália e Marcio estavam realizando uma fantasia ao mesmo tempo em que iniciavam o amigo numa nova experiência. O casal sentia confiança em Gustavo e estavam conscientes do jogo, onde a malícia conduz as regras e não há espaço para a ingenuidade. Brincadeiras adultas. Estavam satisfeitos. Realizados.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

LAVAGENS CEREBRAIS Pt.2 - REPETIÇÕES

A repetição é a melhor forma de memorização. Não importa se o objeto é a coisa mais insuportável do mundo, teu cérebro absorve por osmose. Quem nunca se flagrou cantarolando uma música patética, por mais que você a deteste? E os comerciais? Até hoje lembro de vários. Como a gente aprende a tabuada? Há trechos de diálogos patéticos do curso infantil do CCAA, que eu fiz quando tinha 8 anos, ainda ecoando na minha cabeça.

Outro dia estava na academia e óbvio que no som de lá não vai rolar Slayer. O povo bota nas rádios que tocam as mesmas musicas e que se repetem ao longo do dia. Pode ter certeza: as mesmas pessoas pegam o grude musical na Internet, escutam no seu computador, no mp3 indo pro trabalho ou pro colégio, faculdade, trabalho ou viram toques no celular. Lavagem cerebral em massa.

Chego em casa, ligo a TV: o top 10 dos clipes é justamente o mesmo da rádio lá da academia. Eu pensei que estaria livre daqueles grudes pobres e com letras que até uma criança de 5 anos escreve. Ledo engano. O maldito top 10 aparece até nos toques de celular, quando você está naquele engarrafamento matinal á caminho da senzala remunerada.

Era uma noite de sábado e fui com minha namorada para uma boate na Rio Branco, era aniversário de uma amiga. Ao entrar, me deparei com um ambiente ao qual não me sinto muito á vontade, sou um intruso ali. Pista de dança lotada, as biritas subindo a cabeça daquele antro mor de patricinhas e playboys, eis que o “di-jei” me solta uma seqüência mortal: as mesmas de todo o santo dia, mas dessa vez por horas. Se o castigo vem a cavalo, a paciência veio em doses cavalares de pinas coladas, alexanders, camparis, caipirinhas...

Hora de ir pra casa e começar um outro dia, uma outra semana. E então você verá a repetição das mesmíssimas coisas. O jabá massifica, as pessoas decoram, todos se imitam, todos saem felizes nessa orgia de repetições vazias onde a única meta é decorar e consumir.

terça-feira, 8 de julho de 2008

LAVAGENS CEREBRAIS PT.1 - A PAYOLA

Há uma prática terrível que impregnou o mundo da música: “jabá”, ou “payola”, nos Estados Unidos. Pra quem não sabe, o esquema funciona assim: a gravadora – aquele monstro gigante, sujo, feio e mau -, com o intuito de promover o artista queridinho da vez, resolve pagar X pra veicular X vezes a música do dito cujo. Assim todo mundo sai ganhando: a gravadora enfia goela abaixo a música nos ouvintes, alavanca suas vendas os cofres das rádios ficam mais gordinhos. Pra você que não percebe isso, repare só nos famosos “as 10 mais pedidas” ou nas premiações de melhores do ano lá no Teatro Municipal. Eis a prova real. Esse jogo começou muito tímido há muitos anos atrás, mas hoje em dia isso é regra absoluta.

Sempre gostei de rock. Eu era pirralho quando aconteceu a segunda edição do Rock In Rio, mas lembro de muita coisa. No primeiro, só tinha 3 anos. Aquele evento de 1991 no Maracanã foi muito importante pro meu DNA musical, assim como a morte de Freddy Mercury em novembro do mesmo ano. Na adolescência descobri o heavy metal depois de escutar o Paranoid do Black Sabbath em vinil na casa de um vizinho. Desde então, comecei a grudar meus ouvidos no rádio e não parava de escutar estações que tocavam rock. Com o tempo, me liguei que as musicas eram repetidas durante a programação exaustivamente numa seqüência em que mudava só a ordem pra não ficar muito cara de pau. Sem contar que eu percebia que a maioria das bandas que eu começava a conhecer/gostar sequer eram mencionadas. Assim, o dial perdeu mais um ouvinte decepcionado e irritado.

Sempre ouvi dizer que deveria existir rádios para todos os gostos e isso já aconteceu aqui, mas há muitos anos atrás. Alguém se lembra da Fluminense FM, “a maldita”? Não sei muito bem como funciona no resto do país, mas no Rio de Janeiro, o dial é a coisa menos democrática do planeta. Não há rádio rock, nem blues, nem jazz. O espaço aqui é dividido entre pagodeiros chorões, “fanqueiros” metidos a bandidos, MMB – Música Monossilábica Baiana, aquela mesma, das micaretas - rappers americanos metidos a putões, evangélicos histriônicos e uma rádio ou outra de MPB com coisas mais suaves e agradáveis ao aparelho auditivo.

O jabá é uma coisa cruel, assim como o dial “democrático” de uma cidade que adora cuspir pro resto do país que é a “Capital Cultural do Brasil”. Tente você ligar e pedir uma música em qualquer rádio. Eu já fiz essa experiência, quando era “teenager”. Com certeza dará com os burros na água. Você não vai pedir e sim, eles é que vão oferecer as opções impostas pelo jabá.

Não pense você que essa prática fica restrita as estações de rádio. A TV entra na jogada também. Os mesmos presenteados pela “payola” aparecem nos programas de auditório, seus vídeo clipes entopem os mesmos "top 10" da já falida e patética MTV – que de música não tem nada -, ou em outros canais voltados para a música. Sem contar nas premiações “os melhores do ano”, destinados aos mesmos queridinhos da “payola” rançosa. Já reparou que todo ano é a mesma coisa?

Ainda bem que a Internet ainda é democrática e cede espaço a todos, deixando a indústria fonográfica em desespero e despejando discursos vazios. Apesar de tudo, a fórmula sempre deu certo e continua rendendo moedas as corporações. De qualquer forma, a resistência é muito grande e o jabá não vai ter fim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

MEDIDAS DRÁSTICAS

O Brasil ficou assustado com a nova medida nas leis de trânsito: por dois chopinhos você recebe uma punição de 955 reais, carteira de habilitação suspensa, veículo apreendido e de 6 meses a 3 anos de prisão. A medida pretende diminuir drasticamente os acidentes e o número de mortes no trânsito. Parece tudo muito bonito e as coisas vão realmente funcionar de forma ordeira, correto? Errado.

É Hora de encarar os fatos e ilustrá-los para que tudo fique bem bonito pro brasileiro comum, que com certeza vai passar batido por esse blog. Mas se você não é desses “comuns”, junte-se ao bloco dos indignados. Todo mundo sabe que muitas pessoas cometem merdas no volante bêbadas, os números assustam e etc. Óbvio que há uma grande diferença entre uma dose e várias outras: a conscientização e o bom senso, até porque bêbado torra a paciência.

Imagine a cena: o pai de família vai a um almoço, ou comemoração familiar, bebe um vinho – que tem o teor alcoólico maior que a cerveja -, e ao voltar pra casa, é parado numa blitz. É pego no bafômetro e VAI EM CANA: por causa de uma simples taça de vinho. O indivíduo vai pra delegacia, vai ser espancado e depois encaminham o sujeito pra uma cela superlotada, onde estão os piores tipos de criminosos. Enquanto isso, seu veículo apreendido é depenado nas dependências de qualquer delegacia. Então podemos sonegar impostos, gastar a grana alheia, atirar uns nos outros e cometer atrocidades? Os exemplos, por mais absurdos que sejam, respondem afirmativamente a questão.

No mesmo país, um jovem foi assassinado na porta de uma boate no Rio de Janeiro e o sanguinário está solto. Assim como o estudante de direito que atropelou um frentista em Ribeirão Preto, ou aquele promotor que matou outro rapaz numa boate em Santos. Que tal a gente lembrar dos esquemas de propinas, funcionários do governo torrando cartões corporativos, uso indevido do dinheiro público, deputados e senadores livres, impunes e circulando na maior cara de pau? E os grupos de extermínio? Não faltam exemplos de crimes sem o peso do martelo da justiça no Brasil.

O grande problema é que nessa "zona" disfarçada de país, as medidas são paliativas e não se corta o mal pela raiz. A educação é a base de tudo, mas é mais fácil tomar outras medidas. O que veremos é a legitimidade do abuso de poder, policiais fazendo blitz e achacando descaradamente pessoas nos bares e boates. Eu vejo uma repressão nos moldes dos anos de chumbo. Nosso chopinho do fim de semana agora é crime.

Logo, se existissem leis decentes e coerentes no Brasil, não teríamos esse tipo de medida arbitrária. A coisa é simples: cometeu qualquer ato carniceiro no volante, que responda por processos criminais, independente da lei de trânsito. Mas por mais que essa sugestão seja simples para você, ela requer um esforço descomunal pra ser votada no congresso, assim como qualquer lei ou medida coerente capaz de por ordem nesse país. Mais uma vez, o justo paga pelo pecador.