terça-feira, 22 de dezembro de 2009

DOUTORES DINOSSAUROS

O ano de 2009 vai ficar marcado como o grande ano dos dinossauros. Ver gigantes como AC/DC, Kiss, Rush, Black Sabbath (tá, Heaven and Hell, que seja!) e até o Sir Paul McCartney nos palcos, lotando arenas, levando multidões como no tempo em que eram jovens e tocando com muito vigor nos faz crer que há esperança no fim do túnel.

Os mesmos dinossauros citados acima entraram em estúdio e gravaram álbuns bem acima da média. Muitos podem dizer, principalmente em relação ao Kiss e ao AC/DC que eles fazem a mesma coisa de sempre, não mudam, mas vamos ser sinceros: há necessidade de inovação? Em time que está ganhando não se mexe. Ainda mais quando esses times estão em campo há mais de trinta anos.

Todos já sabem o que esperar das grandes bandas e seus shows: é o sino e "Hells Bells" no palco do AC/DC, aquele monte de parafernália pirotécnica no show do Kiss, Ronnie Dio fazendo "horns up" imortalizado por ele mesmo nos shows do Sabbath, é o Lemmy com o pedestal lá no alto com seu rickenbacker no talo despejando graves na cabeça dos bangers e tocando "Ace of Spades". Mas ainda repito a pergunta do parágrafo anterior a você, na esperança de que sua resposta seja igual a minha. Se for, é um bom sinal de que há ainda pessoas nesse mundo que ainda gostam de boa música, feita com alma, energia e rebeldia.

Ver os doutores dinossauros em cena é uma verdadeira aula de rock. Ainda mais hoje em dia, em que muitas bandas precisam voltar à classe de alfabetização musical. Já estava mais do que na hora dos bons velhinhos entrarem em cena e mostrarem aos novatos não só com quantos paus se faz uma canoa e sim, com quantos acordes e atitude se faz um excelente rock and roll.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ADEUS, DALBORGA!

Depois do Lombardi, mais uma voz do nosso Brasil varonil se cala. Luiz Carlos Alborghetti faleceu nesta quarta feira à tarde em Curitiba, aos 64 anos, vítima de câncer no pulmão. Paulista de Andradina, morava há mais de 20 anos na capital paranaense, foi apresentador de programas de rádio e TV durante 30 anos. Atuou como deputado estadual pelo Paraná por 16 anos, além de ter sido vereador de Londrina por 5 anos. Atualmente, trabalhava na Rádio Colombo e seus programas eram transmitidos via internet, a mesma que fez crescer ainda mais sua popularidade através de vídeos postados no you tube dos tempos em que apresentava o "Cadeia" na TV.

Alborghetti era o mestre. Lembro de ter visto ele pela primeira vez na TV quando seu programa "Cadeia" passou em rede nacional por um tempo. Seus bordões, seus ataques e acessos de fúria descontrolados contra a maldita corja de políticos corruptos e sem caráter, bandidos, vagabundos e canalhas tinham sim sua excentricidade, mas não deixava de ser a mais perfeita representação da indignação de muitos brasileiros cansados de tanta impunidade. Vale a pena por os bordões aqui. Eu vibrava como se fosse um gol quando ele disparava: "Não tem que construir mais cadeias! Tem que construir mais cemitérios!"; "Tá com pena dele? Leva pra tua casa! Põe pra dormir na tua cama!", "Foi pro colo do capeta!", "Peidou pra muzenga", "Bandido bom é bandido morto". Dalborga quebrava fax, telefone, batia com o cassetete que nem um louco, xingava a torto e a direito, mandava recado, não tinha papas na lingua. Ele botava mesmo pra fuder! A identificação foi imediata e desde então o tive como herói.

Com a internet, ficou mais fácil acompanhar o trabalho do mestre. Não me cansava de ver seus vídeos no youtube, reunir amigos e familiares pra ver e, ao mesmo tempo, me divertir e refletir sobre o que ele dizia. Não me arrisco a dizer que Dalborga (como nós os fãs carinhosamente o chamava) era a última reserva moral desse país. Infelizmente teremos muitos casos sujos de impunidade no Brasil. Mas daqui pra frente infelizmente não teremos o Dalborga revoltado pronto pra dizer tudo aquilo que a maioria das pessoas quer dizer, mas não teve coragem de assumir. Descanse em paz, Mestre!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

RINITES COTIDIANAS - CIRCUITOS FECHADOS

"Ele desvia das pessoas rapidamente em meio a hora do rush. Seu trajeto pela Carioca parece uma costura torta. Tentava sem sucesso fugir da multidão ou esbarrar nas pessoas, precisava chegar logo em casa. Seus pensamentos eram um turbilhão intenso de imagens, sons e sentimentos. Como um espasmo ou até mesmo uma intervenção divina, ele para no meio da Rio Branco e olha o relógio: 18:27. Mais três minutos e ela sai daquele prédio e vai pra casa, pensou. Como será que ela está? Com que roupa ela foi hoje? Será que pintou os cabelos? Reforçou as mechas? Que esmalte? Que sapato? Scarpin preto? E um novo furacão de lembranças quase sinestésicas o atormentava.

Tinha mais de dois meses que o relacionamento havia chegado ao fim mas, independente disso, ela nunca saiu de sua mente. Não importava o que fazia ou onde estava. Lembrava dos momentos quando passava pelos lugares em que estiveram juntos, nos bares ao ver casais - principalmente ao ver mulheres de tipos semelhantes ou mesma cor de cabelo - ao escutar uma música, independente de ser no ônibus, na tv, no trabalho ou na academia. Era sempre aquela lembrança, aquele perfume e o baque na boca do estômago.

Precisava de válvulas de escape. Era hora de mergulhar nas aventuras, na putaria. Frequentar inferninhos, cair na solteirice, tentar ser cafajeste. Tudo era válido: strippers, biritadas e filmes pornôs. Resolveu então procurar atrizes que em nada se pareciam com a ex. Mas a mente dava cãimbras, trapaceava: sempre aparecia uma garota semelhante àquele anjo do Andaraí. Filmes eróticos já não eram suficientes, as comparações eram inevitáveis, conhecia bem cada pedaço daquele corpo, inclusive as medidas exatas daquela escultura. Não fazia diferença se era loira ou morena, as 39 polegadas de quadril estavam sempre presentes. Sentia uma ponta de orgulho quando os amigos deliravam com alguma puta de catálogo online ou rasgavam elogios a alguma atriz pornô parecida com a sua ex-namorada. Quanto mais fugia, mais ela atormentava.

A agonia não parecia ter fim. Já não podia olhar aquele ensaio fotográfico com a gostosa do mês na internet, ou a mais nova capa de revista. Quanto mais ele fugia, mais ela assombrava. Não escutava mais Alice in Chains. Evitava a Cinelândia. Evitava sites eróticos. Evitava perfumarias, J'Adore, Nina Ricci. Não bebia mais Sex on the Beach. Evitava Flower Tucci, Alexis Texas. Cansado e ciente de que precisava de um subterfúgio para curar a ressaca amorosa com urgência, decidiu apelar pro velho serviço de acompanhantes e estava disposto a pagar uma quantia bem cara.

Passava das oito da noite quando entrou no prédio da Barata Ribeiro e foi direto ao sexto andar. Precisava aliviar sua tensão com uma profissional e teria uma hora para relaxar e esquecer o fantasma loiro que o perseguia. Monique o aguardava vestindo uma imitação de scarpin, meias 7/8, cinta-liga e lingerie. Tudo preto. Ao abrir a porta, soube como ela estava. Soube ao menos com que roupa esteve hoje. Mesmo scarpin. Mesmo perfume. Mesmas medidas. Mechas pretas. Esmaltes vermelhos. Nome diferente."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

SAUDOSISMOS Pt 4 - ENLATADOS LEGAIS

Levaram José Mojica Marins - ou "Coffin Joe" como é conhecido mundialmente com louvor o nosso grande "Zé do Caixão" - ao cinema para assistir "Lua Nova", esse romancezinho de vampiros emo-neogótico-pseudodark pra lá de fraquinho. Não é necessário dizer que o bom e velho Zé detonou com o enlatado mas vale expor o que o mestre disse: "Não entendo o que as mulheres veem de tão fatal nele! O cara não tem força expressiva, não movimenta os músculos do rosto!". Ao ler os comentários tanto de Mojica quanto dos interneteiros de plantão deixando suas opiniões sobre a matéria, veio à minha cabeça várias ingadações e observações e o desconforto seguido de decepção que, assim como a de Mojica, foi inevitável.

Lembro bem que a minha geração foi aos cinemas assistir "Filadelfia" e ouvia Pearl Jam e Alice in Chains. No Brasil, ainda tinha a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii na época do power trio. Tudo bem, na época eu tinha uns 12 anos, pirralho, no primeiro degrau da adolescência e nessa fase é normal querer abraçar o mundo, conhecer várias coisas. Logo, é inevitável consumir besteiras já que você ainda está formando sua personalidade e com o tempo, seu senso crítico fica mais apurado para separar o joio do trigo e não ser mais radical. Mas se você entra em contato com coisas de qualidade esse processo ganha agilidade.

É óbvio que existiam coisas patéticas, bandas ridículas e séries idiotas (não sei porque, mas lembrei de Melrose), basta dar uma pesquisada básica que você encontra. Mesmo assim, já parou pra prestar atenção no que os teenagers da época gostavam? As patricinhas ao abrir revistas como "Capricho" e similares afins davam de cara com letras traduzidas de Guns and Roses, Bon Jovi (isso até pouco tempo era comum) Aerosmith, Poison e - pasmem - Skid Row. Sim, as patricinhas abobalhadas gostavam de cabeludos roqueiros e de hard rock farofa. Mas há de convir que a coisa piora a cada dia que passa. A molecada gosta de Fresno, NX Zero, adora a série Crepúsculo, quando gosta de algo diz que "é tudo de bom", exalta um bom mocismo pra lá de hipócrita (leia-se Jonas Bros)e cospe idiotices na web em 140 caracteres. Pensando bem, precisa mesmo de mais? É, estou ficando velho...