terça-feira, 26 de agosto de 2008

NEUROSES E FANTASIAS PT3 - CONCURSOS PUBLICOS

A terceira parte da neurose não é tão diferente do que foi dito antes. Agora, o adolescente é um jovem á beira da vida adulta, ou aquele tipo que pensa em retardar ao máximo as responsabilidades. Formado, não tem mais a desculpa de não arrumar emprego por causa da faculdade. Estágio que era raro agora é inexistente. Bate de porta em porta e só recebe a frase célebre “aguarde que entraremos em contato”, uma boa maneira de bater na cara do candidato e dizer “não há vagas” ou “você não se encaixa no perfil da empresa”. A clientela dos cursos preparatórios pra concursos é muito mais heterogênea: além dos descritos acima, há também os que estão trabalhando e até constituem família e desempregados que apostam suas últimas fichas nos estudos.

A grande fixação agora é a busca pela estabilidade. Essa palavra é mágica para os ouvidos da classe média envolta em dívidas, cercada pelo monstro faminto do desemprego e cada vez mais achatada entre pobres e ricos. Afinal, é justamente esse povo neurótico que carrega o país nas costas. Promessas de salários carnudos, a tal estabilidade, garantia de emprego “forever” e uma série de vantagens a ponto dos candidatos enxergarem as repartições públicas como se fossem uns verdadeiros oásis.

Os mesmos abutres agora mudam o rótulo da embalagem, mas o espírito é exatamente o mesmo. Muitos exibem até os salários dos cargos ao invés da mensalidade. Gaiatos arrumaram um bom motivo para não arrumar emprego: “não posso cara, estou estudando para concurso”. O mais cômico é que a maioria dos concursos demoram anos pra sair o edital e mais um ano pras inscrições, isso quando não são adiados por tempo indeterminável.

Simulados, uma enxurrada absurda de informações, leis, códigos, apostilas, adendos, fórmulas e macetes milagrosos, aulas extras inclusive nos finais de semana e a promessa de que a redenção e os primeiros passos da estabilidade estão nas repartições públicas. Mas não avisam que são vagas para celetistas.

E nesse rebanho de desespero, há pessoas angustiadas com livros na cabeceira, no trem, no metrô, no busão. Nada mais é do que a prorrogação da angustia e da fantasia. Diferente dos vestibulares, os aprovados ficam naquela espera eterna ou nunca são chamados.

Só resta mesmo a esperança.

5 comentários:

Fernando Silva disse...

É, essa é a sua, a minha, a nossa vida. Somos classe média, não adianta correr. E a coisa vai apertando. E só tem uma saída...pro lado bom ou ruim..."mude as coisas para que elas sejam sempre as mesmas."

Fàbio. disse...

É incrivel como todo dia é a mesma coisa, escuta varias pessaos dizendo que estão se preparando pra concurso publico, só não sabe qual, apenas estudam pra tentar um concurso qualquer que seja ligado ao estado e garanta cargo pra vida toda. O pior, algumas pessoas tenta o concurso por pura pressão, outras pq realmente precisam, mas a verdade é uma só, se aprovado no concurso, é rezar para se enquadrar no que eles querem, se faltar 1 pequeno item pode apostar que vc ta fora, só perdeu tempo... lamentável..

Esses preparatorios, é engraçado, tenho parentes com cargos no estado, e formação em falculdade federal, nunca ninguem precisou de curso preparatorio ou os cacetes do fim... parece que quanto mais informação as pessoas adquirem com o passar do tempo, menos eles conseguem assimilar tal conhecimento, parece um
investimento curto prazo x futuro.

Melsan On line disse...

É... As pesquisas apontam que a taxa de desemprego no Brasil vem caído nos últimos anos, o que é uma notícia boa, pelo menos é um passo. Mas esquecem de analisar e pesquisar em cima do salário recebido e da qualidade do emprego. Sabemos que muitos, depois de lutar e receber "portadas" na cara, acabam trabalhando em algo quase escravo, ganhando um salário de fome e se submetendo a horas árduas de "lida" só para não perder o pouco que tem.
Por outro lado, pessoas buscam a estabilidade em um serviço público concursado, em qualquer área e se esquecem do prazer em trabalhar. O resultado é funcionários, na grande maioria de mau humor, que atendem a população como lixo.
E o mais absurdo disso tudo, é que no meio desta turbulência estão empresas e instituições de ensino que tentam levar vantagem da tristeza dos outros.
É lamentável...
A esperança é realmente a última saída! E quem tenha o seu emprego dos sonhos, que tente garanti-lo dentro da dignidade. Pois quando a dignidade começar a dar sinais de ir embora, é que o emprego não é mais dos sonhos...

Fernanda disse...

Nossa! Realmente concurso público é uma via crucis de fé.

E todos os dias existem mais fiéis em romaria incansável pela tão sonhada estabilidade, uma espécie de paraíso do mundo moderno.

E qual seria o inferno?

Eis o mistério da fé.

lainevidal disse...

é, assim como são as pessoas são os animais.