domingo, 30 de agosto de 2009

O NOVO HINO NACIONAL

Vejam agora, senhoras e senhores, a mais nova versão do Hino Nacional Brasileiro. Que Osório Duque Estrada nada! Agora é com Vanusa e João Bemol (será que é o nome artístico dele mesmo?) que iremos "entoar" o hino nos estádios, cerimônias, escolas, datas cívicas e encontros etílicos.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

SAUDOSISMOS Pt 3 - MIOPIA

Certo dia estava no meu trabalho quando um amigo começou a falar sobre uma "happy hour" que fica ali na final da Rio Branco, bastante conhecida por ser o reduto da galera quarentona, que agora tenta recuperar as últimas gotas de embalos de sábado e relembrar os "áureos tempos". O local fica repleto de coroas recém saídos dos escritórios da cidade. Seus olhos brilhavam e era quase comovente ver o deleite do amigo ao descrever seus bons tempos: "cara, era maravilhoso! Não tinha essa violência toda, Rio era melhor (nisso tenho minhas dúvidas), as músicas eram melhores, as noitadas eram melhores, nossa, tudo era maravilhoso, aproveitei tanto que voltaria e faria tudo de novo. Por isso que vou lá nesse happy hour e chuto o balde, porque só rola som dessa época!" Óbviamente que seria bizarro ver coroas curtindo Kilswitch Engage com o mesmo entusiasmo de Bee Gees.

Recentemente eu mesmo fui pego por esse vírus. Um amigo bem mais novo, entrando nessa vida de "sex, drinks and metal" me perguntou como era nos velhos tempos da Rua Ceará, na Praça da Bandeira. Eis a conversa: "...Diziam que lá era bonzão, mas eu nunca peguei essa fase. O que tinha lá?"

"Sinceramente? Porra nehuma! hahaaha... Assim, onde é o Heavy Duty atual, era um enorme espaço vazio que servia de garagem, porque ali era um galpão. Sempre rolavam umas putarias ali, por trás dos carros. Ao lado do HD antigo tinha um bar... E ambos lotavam tanto que tinha uma porrada de mesa pela rua, daí você andava mais uns passos e tinha o Garage, que era a tal "lendária" casa de shows undergrounds... Do outro lado da rua, no muro da garagem de busões de turismo tinham os maconheiros e os podrões cheios de salmonela... No final da rua tinha o bar dos punks, era toscaço... Então, parecia um enorme carnaval de roqueiros, uma festa de rua de gente vestida de preto, sacou?

"Com o tempo o mal se alastrou para outros dominios...hahahaha! Abriram mais bares horríveis e mal frequentados na outra esquina, em direção a Mimosa... Ali era onde colavam os mais toscos e maloqueiros. Nunca vi lugar mais mal frequentado! Era muito "favela forces", rolava muito tiro! Era bem "death metal". Aquilo era o umbral, mas como era moleque, sem grana e sem perspectiva, pilha sempre acesa, ia direto pra lá. Tinha épocas que todo santo sábado estava lá e podia ir sozinho que encontrava nego e enchia o pote por bagatelas baixas. E quando as putas andavam por lá a paisana dar um rolé? E os carinhas - era uma pedreirada abissal - que iam pro puteiro? Bastava andar sem blusa de banda ou sem estar "à caráter" que denunciava a visitinha ás primas."

"Bons tempos... Mas com o tempo nego começou a reclamar, a reclamar e no final a gente parecia um bando de velho. A coisa desandou aos poucos, as pessoas foram crescendo e se livrando daquilo, foi ficando cada vez mais vazio, entediante e decadente até que o bar saiu dali e acabou de vez. O encanto da bruxa acabou. A rua hoje em dia é aberta todos viveram felizes para sempre! Era foda cara... Bons tempos... Mesmo sendo uma merda..."

O que se nota nesses comentários é que realmente o saudosismo nos deixa tão míopes a ponto de não percebermos que os bons tempos recebem toda essa embalagem mágica pelo simples fato de que então éramos jovens. Basta por um óculos de bom senso pra perceber que as coisas não eram tão mágicas assim. A juventude romanceia tudo, porque é de fato a melhor fase da vida. Mas como eu disse anteriormente... "Bons tempos... Mesmo sendo uma merda..."

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

RINITE COTIDIANA - CIRCUITOS FECHADOS

"Ele desvia das pessoas rapidamente em meio a hora do rush. Seu trajeto pela Carioca parece uma costura torta. Tentava sem sucesso fugir da multidão ou esbarrar nas pessoas, precisava chegar logo em casa. Seus pensamentos eram um turbilhão intenso de imagens, sons e sentimentos. Como um espasmo ou até mesmo uma intervenção divina, ele para no meio da Rio Branco e olha o relógio: 18:27. Mais três minutos e ela sai daquele prédio e vai pra casa, pensou. Como será que ela está? Com que roupa ela foi hoje? Será que pintou os cabelos? Reforçou as mechas? Que esmalte? Que sapato? Scarpin preto? E um novo furacão de lembranças quase sinestésicas o atormentava.

Tinha mais de dois meses que o relacionamento havia chegado ao fim mas, independente disso, ela nunca saiu de sua mente. Não importava o que fazia ou onde estava. Lembrava dos momentos quando passava pelos lugares em que estiveram juntos, nos bares ao ver casais - principalmente ao ver mulheres de tipos semelhantes ou mesma cor de cabelo - ao escutar uma música, independente de ser no ônibus, na tv, no trabalho ou na academia. Era sempre aquela lembrança, aquele perfume e o baque na boca do estômago.

Precisava de válvulas de escape. Era hora de mergulhar nas aventuras, na putaria. Frequentar inferninhos, cair na solteirice, tentar ser cafajeste. Tudo era válido: strippers, biritadas e filmes pornôs. Resolveu então procurar atrizes que em nada se pareciam com a ex. Mas a mente dava cãimbras, trapaceava: sempre aparecia uma garota semelhante àquele anjo do Andaraí. Filmes eróticos já não eram suficientes, as comparações eram inevitáveis, conhecia bem cada pedaço daquele corpo, inclusive as medidas exatas daquela escultura. Sentia uma ponta de orgulho quando os amigos deliravam com alguma puta de catálogo online ou rasgavam elogios a alguma atriz pornô parecida com a sua ex-namorada. Quanto mais fugia, mais ela atormentava.

A agonia não parecia ter fim. Já não podia olhar aquele ensaio fotográfico com a gostosa do mês na internet, ou a mais nova capa de revista. Quanto mais ele fugia, mais ela assombrava. Não escutava mais Alice in Chains. Evitava a Cinelândia. Evitava sites eróticos. Evitava perfumarias. Não bebia mais Sex on the Beach. Evitava Flower Tucci, Alexis Texas. Cansado e ciente de que precisava de um subterfúgio para curar a ressaca amorosa com urgência, decidiu apelar pro velho serviço de acompanhantes e estava disposto a pagar uma quantia bem cara.

Passava das oito da noite quando entrou no prédio da Barata Ribeiro e foi direto ao sexto andar. Precisava aliviar sua tensão com uma profissional e teria uma hora para relaxar e esquecer o fantasma loiro que o perseguia. Monique o aguardava vestindo uma imitação de scarpin, meias 7/8, cinta-liga e lingerie. Tudo preto. Ao abrir a porta, soube como ela estava. Soube ao menos com que roupa esteve hoje. Mesmo scarpin. Mesmo perfume. Mesmas medidas. Mechas reforçadas. Esmaltes vermelhos."

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

RINITE COTIDIANA - OTÁRIO VINGATIVO

"Ele penteia os ralos cabelos brancos e desce a Manuela tranquilamente. O trajeto é ridículo de pequeno, não chega a dez metros de seu portão. Dobra na Constança e caminha mais três metros. Entra no bar, olha ao redor despretensioso e arrogante para cada um e pede uma cerveja. Semblante tranquilo, mente frenética. Aquele filho da puta não vai passar de hoje. Aquele sorriso cínico amarelado repleto de obturações velhas e bafo de cachaça não vai ter mais motivos pra aparecer.

O calor é insuportável. As máquinas de caça níquel também. Ele estava cansado das gracinhas, da arrogância, do jeito malandro, mascarado e galanteador de quinta. Odiava malandros, logo, nunca foi com os cornos do cara e, depois daquele sábado em que fora humilhado ao ficar sem respostas na frente de todos, viu que alguém precisava de uma lição.

Três copos. "Vai mais uma, patrão?" diz o muquirana. Ele acena positivamente sem esboçar nada. Olhos petrificados prontos pro abate. Semblante vermelho. Não vê a abençoada cerveja suada no balcão. Não vê nada. Três estampidos secos. Três balas no peito. Corre-corre, gritaria e uma bela golada pra refrescar e descer a adrenalina.

Paga a conta e vai dar voltas pelo bairro. Era hora de desfrutar a morte do malandro, afinal, menos um vagabundo no mundo. Se fosse um pouco mais esperto, não daria voltas pelo bairro, desdenhando da inteligência alheia e desafiando a própria sorte, achando-se impune. E quem ousaria incriminar um tranquilo senhor de meia idade da vizinhança?

Três horas. Anoitece e de repente uma ventania faz a temperatura cair. O tempo muda e a sorte dele também. Ao dobrar a esquina e voltar pra casa, é surpreendido por amigos e familiares da vítima, ainda estirada no chão do bar. Quebram-lhe os dentes pra calar a boca e a perna pra não poder correr. O velho tarado, que cantava as garotinhas da escola, aquele vizinho escroto irritante capaz de acabar com a paz de espírito da vizinhança, arrogante, implicante e encrenqueiro estava estirado no chão. "Isso é uma covardia!" grita uma idiota da janela ao ver a surra que o velho levava. "Covardia foi o que ele fez! Ele matou meu irmão quando ele estava trabalhando, porra!"

Dizem por aí que a vingança é a arma do otário. Ainda mais quando o otário subestima a inteligência alheia. A sorte não aceita desaforo e tudo realmente pode mudar de uma hora pra outra. Os dados rolam o tempo todo e seus resultados são meramente randômicos. Seu deleite foi pro ralo assim como o sangue que escorria da sua cabeça."

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SAUDOSISMOS Pt 2 - VHS

Ao acessar o you tube e selecionar uma penca vídeos antigos pra assistir, sejam clipes de bandas antigas, Trapalhões, Monty Python ou as pegadinhas do Ivo Holanda, lembrei imediatamente das fitas VHS. As linhas denunciando "trackings" mal ajustados, fitas amassadas, as cores, ruídos brancos e granulações típicas das fitas fizeram-me voltar no tempo e relembrar quando os videocassetes eram presença maciça nas casas. Obviamente, o vírus do saudosismo e as lembranças das "VHS trades" entre amigos, a expectativa em ver o "Fúria" de madrugada ou até mesmo de ver um clipe bacana avulso pela TV vieram à tona.

Quando a MTV chegou ao Brasil em 1990, surgiu outro tipo de "tape trade": das fitas VHS com clipes. Com o surgimento do "Fúria" (adaptação brasileira para o "Headbanger's Ball" dos states) a troca de fitas ficou ainda mais frenética. Quem não tinha dois videos arrumava logo um jeito de levar pra casa de um amigo pra gravar e curtir os videoclipes das bandas prediletas. Assim como as fitas k7, as VHS também serviram de meio para que muitas pessoas conhecessem bandas novas.

Mas o VHS não servia só pra gravar clipes. Muitas famílias registraram festas de 15 anos, casamentos, batizados, bar-mitzvas, festas e até mesmo cenas ridículas nos tais eventos sociais. Era mais um recurso pra quem antes só podia ter um álbum de fotos como recordação. No final das contas, ver essas fitas rendiam muitas gargalhdas e reuniões divertidas. Nada melhor do que ver parentes e chefes bêbados e sem noção do ridículo nas festas.

Falar de VHS e não falar de locadora de filmes é impossível. Quem não devolvesse os filmes rebobinados era multado e não era raro as fitas alugadas sujarem as cabeças ou até engasgarem no video. Existiam até placas de aviso nas locadoras, ao lado das que apontavam a sessão erótica, de fitas vermelhas e rosa-shocking. Aluguel de fitas dava grana e muita gente tirava seu sustento dali. A prova disso era uma locadora no Rio de Janeiro que chegou a abrir uma rede com mais de dez lojas por toda a cidade mas, assim que o DVD surgiu, não demorou um semestre pra decretar falência e desaparecer.

Esta criação japonesa foi de extrema importância para a perpetuação da memória televisiva, pois inúmeras pessoas gravaram programas de TV e videoclipes que hoje estão no you tube e nos blogs pela web a fora. Basta uma pesquisada básica pela internet que você acha aquela série, um jogo especial ou aquele musical de vinte anos atrás. Muitas raridades estão à venda ou disponíveis pra downloads.

As VHS quebraram também várias correntes: não dependíamos só da TV para ver alguma coisa ou esperar por uma reprise, pois era só programar o video pra gravar enquanto estávamos fora. Se não fossem as fitas, provavelmente as imagens ficariam perdidas em nossa memória e seria impossível revê-las nos dias de hoje.

sábado, 1 de agosto de 2009

SAUDOSISMOS Pt 1 - FITAS K7

As fitas K7 foram de extrema importância para a música. Para os adolescentes que não viveram a época, as K7 tinham a mesma função do mp3. Ao invés de trocar arquivos e procurar por links via web, trocávamos e gravávamos fitas e muitos artistas conquistaram adeptos desta maneira. As fitas eram de diversos tamanhos: 45, 60 ou 90 minutos. Tinham especificações como ferro extra, cromo, super cromo, hiper mega e quando o CD surgiu, vieram as que prometiam "fidelidade ao som digital". Em muitos dos casos, as gravadoras inclusive lançavam fitas simultaneamente ao lançamento do LP, prática extinta com o surgimento do CD. As fitas k7 salvaram os ouvidos de muitos "duros" e foi responsável por divulgar artistas e até influenciar diretamente no genoma musical de muitas pessoas, principalmente de quem vos escreve.

Lembro claramente de descer as ruas do meu bairro com uns trocados no bolso pra comprar fitas k7. Fazia estoque, pois quando alguém aparecia com alguma raridade - e naquela época muitos álbuns principalmente de rock pesado eram bastante difíceis de achar no Brasil - já estendia a fita k7. Isso era praxe até mesmo com os lançamentos. Não importava se era raridade ou lançamento, a vontade de gravar a fitinha pra ouvir em casa ou no walkman (lembram disso?) era a mesma. Até mesmo copiar de outra k7 era válido, mesmo ciente de que a qualidade era sofrível. Quando estava completamente ferrado, atacava fitas velhas e coleções inteiras de cursos de idiomas viraram álbuns do Sepultura, Black Sabbath, Ramones, Misfits, etc.

E por falar em walkman, quem nunca voltou uma fita com canetas, girando freneticamente pra não gastar pilha? E quando as fitas prendiam no deck? Lembro como era frustrante ver uma fitinha se transformar num macarrão de carbono e ferro. Alguém desmagnetizava fitas com ímãs pra "revirginizar" a dita cuja? Outro artifício muito usado lá em casa.

Roqueiros, punks e bangers de gerações anteriores a minha costumam falar sobre uma prática muito comum. Como as coisas demoravam muito pra chegar ao Brasil, quando uma banda lançava um trabalho era comum fazer um racha pra comprar o LP. As vezes o dono do LP avisava a turma pra entregarem suas fitinhas pra gravar pra todos. Era uma prática de valor social inestimável que infelizmente se perdeu com o passar dos anos.

Ao olhar pras fitas k7 remanescentes de uma extensa coleção, veio à memória os fatos e histórias de cada aquisição. Muitas se perderam, outras estragaram. Cada uma delas tem uma história e agora, elas ficam obsoletas no canto, cobertas tanto pelas poeira das caixinhas como pela poeira do tempo.