domingo, 31 de maio de 2009

ABOUT CRÍTICAS

O escritor norte-americano Dale Carnegie (1888-1955) escreveu em seu best-seller "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas" de 1936 o seguinte: "a crítica é futil porque coloca um homem na defensiva, e, usualmente, faz com que ele se esforce para justificar-se. A crítica é perigosa porque fere o precioso orgulho do indivíduo, alcança o seu senso de importância e gera o ressentimento." No mesmo livro, ele cita uma frase do psicólogo Hans Selye: "com a mesma intensidade de sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação."

Essas citações resumem por completo a essência da crítica a ponto de não se fazer adendos. Há quem diga que há a crítica construtiva, o que eu considero no mínimo uma justificativa cínica pra alguém descer o malho em outrem, quando na verdade o correto seria identificar o problema e dar a solução. Falar e apontar é muito fácil mas fazer a segunda opção - dar a solução -, ninguém está disposto, porque no final todo mundo sabe que a dificuldade é enorme também. O que não se percebe na maioria das vezes é que o ato de julgar, criticar ou apontar é capaz de gerar sentimentos e consequências típicas de um efeito borboleta.

Todos nós apontamos uns aos outros, como se fossemos todos isentos de erros e defeitos pelo menos alguma vez na vida. Andar com martelinhos por aí é normal. Faz parte. Mas é só recorrer às duas frases do primeiro parágrafo pra despertar e refletir. E, pra finalizar e resumir, vai a célebre frase que Jesus Cristo disse há dois milênios atrás: "que atire a primeira pedra quem nunca pecou".

quinta-feira, 28 de maio de 2009

SID & NANCY (1986)

No ano de 1986, Alex Cox levou à tela grande a história de Sid Vicious e Nancy Spungen, um dos casais mais famosos do mundo do rock e, com certeza, o mais drogado. Apesar de contar bastante coisa sobre os Sex Pistols, "Sid and Nancy" foca diretamente na conturbada história do casal. Em contrapartida, o assassinato de Nancy Spungen retratado no filme é mera especulação, já que até hoje não se sabe dos detalhes do crime.

O trinômio sexo, drogas e rock aliado a violência e ao inconformismo - por vezes caricato e encenado -, é o combustível da trama. Pelo que se vê, Sid Vicious não passava de um garoto idiota, por vezes ingênuo, detonado pelo vício das drogas e pela paixão por Nancy, que ajudou bastante na sua ida pro fundo do poço. Na medida em que Nancy assume mais destaque na vida de Sid, as drogas ocupam e tiram o espaço do sexo e do rock and roll, inclusive na trilha sonora, que além de contar obviamente com Sex Pistols, tem The Stooges e a participação do falecido Joe Strummer em algumas composições.

Uma das coisas mais desafiadoras do cinema é o ator fazer o papel de uma pessoa bastante conhecida, pois corre o risco de parecer caricato. Mas a partir do momento em que os espectadores enxergam o personagem a ponto de esquecer o ator em cena, nem que seja por um instante, é sinal de que a coisa deu certo e o papel está em boas mãos. E neste caso Gary Oldman se enquadra no papel de Sid Vicious, assim como Chloe Webb, na pele de Nancy. Chegou a ser cogitado entregar o papel a Courtney Love, que teve que atuar de coadjuvante como Gretchen, uma amiga de Nancy, por insistência dos patrocinadores do filme. Outro destaque fica por conta das cenas honestas e cruas dos viciados decadentes de Nova York, mesclados a momentos mais "românticos", como a clássica cena do casal se beijando no beco repleto de lixo.

É romântico, trágico, cru, ríspido e indicado para fãs dos Sex Pistols, de punk rock ou mesmo aqueles que leram o livro "Mate-me Por Favor", pois encontrarão muitos fatos familiares ao longo do filme. Ninguém soube resumir tão bem essa história como Nancy Spungen: "Love Kills".

terça-feira, 19 de maio de 2009

INDIANOS SOMOS NOZES

As novelas realmente ditam a moda e os costumes do nosso Brasil varonil imbecil. Basta algum demente viajar em um roteiro torto, confuso, repleto de redundâncias e miopias e lançar seus devaneios na telinha para que todos no dia seguinte comprem as roupas da nova "moda" das nove, repitam os bordões e sigam sua vidinha pressetada na telinha.

A moda do momento é a Índia. Mas já teve épocas em que todos queriam ser italianos, cantar como os italianos (quem se lembra do chato do Eros Ramazzoti? E da Laura Pausini?), andar como os árabes, falar como os marroquinos, quebrar pratos como os gregos e morar no Leblon, coisa que acontece periodicamente. O mais legal disso tudo é quando alguém vira e dispara: "é um meio de conhecer a cultura dos outros lugares!". Mas será que essas pessoas que dizem isso nunca ouviram falar em filmes? Livros? Fotos?

Por mais que os brasileiros fiquem chocados com a realidade indiana e seus costumes, não somos muito diferentes deles, não. Assim como eles, somos um país enorme, multicultural, multirreligioso, calorento pra cacete e repleto de miseráveis. Assim como lá, a desigualdade social é marca registrada. Nossas metrópoles são um verdadeiro inferno - tente usar qualquer transporte público na hora do rush no Rio ou em São Paulo. Nosso cinema é referência e produzimos bizarrices musicais, ou vais me dizer que a Axé Music, Funk, o Calypso e o Zezo são normais? Sistema de castas? Com toda a certeza, o Brasil tem suas castas determinadas há séculos, pois querendo ou não, a sua origem determina bastante coisa e de cara é a primeira barreira a ser quebrada pra atingir algum grau de ascensão social. Ou você ainda crê na história mirabolante do favelado retirante analfabeto, caçula de 12 irmãos que hoje é um poliglota vice-presidente de multinacional? Acredite, o Brasil é tão exótico e pitoresco pros gringos quanto a Índia é para os brasileiros.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

DETROIT ROCK CITY (1999)

Dirigido por Adam Rifkim, "Detroit Rock City" conta a saga de quatro adolescentes que não davam a mínima pra febre disco - afinal era 1978, o auge da disco music e John Travolta com seus embalos de sábado. O maior objetivo do quarteto era ver um show do Kiss. E quando tudo estava certo pra cairem na estrada pra Detroit, eis que surgem inúmeras confusões. A primeira acontece justamente com os bilhetes: a mãe de Jam (Lin Shaye) é ultra-mega conservadora e rasga os quatro bilhetes. A partir de então, Lex, Trip e Hawk (Edward Furlong) vão precisar de menos de um dia pra conseguir novas entradas.

Ao longo da empreitada, vão entrando numa confusão atrás da outra, cometendo vigarices, conhecendo pessoas estranhas, se metendo em assaltos, boates, brigas, igrejas e nem mesmo belas mulheres - entre elas, Shannon Tweed, que já saiu na Playboy -, serão capazes de deter os quatro membros da Dynasty (banda cover do Kiss) de assistir ao "melhor show de rock and roll da Terra".

Mesclando "road movie" com comédia adolescente - mas sem as piadas idiotas no estilo "American Pie" -, o filme é repleto de boas idéias e muito rock do início ao fim. A mescla de imagens históricas logo nos minutos iniciais dão um panorama detalhado do que acontecia no final dos anos 70. A renúncia de Nixon, os programas de TV, os embalos e adeptos da disco music se misturam aos comerciais, matérias e imagens do Kiss, fazendo o espectador ter uma baita noção do que foi o impacto dos quatro mascarados no mundo. Outro fator de peso, literalmente, é a trilha sonora que não podia ser outra exceto o bom e velho rock and roll dos anos 70, com Blue Oyster Cult, Black Sabbath, AC/DC, Ted Nugent, T-Rex, Ramones, Thin Lizzy, entre outros.

Indicado para aqueles que adoram o rock and roll e peça obrigatória para os aficcionados e membros da Kiss Army.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

CRIANÇAS FUTURAS

O ato de acordar muito cedo para trabalhar é um hábito intrínseco nas nossas vidas ainda na escola e porque não, na creche. Mesmo as crianças que estudam à tarde, elas acabam alguma vez na vida tendo que fazer o exercício de levantar cedo. Nossas obrigações nessa fase da vida são as lições de casa e as notas. É também nessa fase que os nossos nomes aparecem completos e impressos somente em boletins e na lista de chamada.

Com o tempo, a vida substitui o boletim pelo contracheque, a lista de chamada pela da inadimplência, as cadernetas de presença por carteiras de trabalho e nossos nomes perdem valor quando são anexados códigos de mais de onze dígitos. Acordávamos cedo pra estudar, agora é pra trabalhar. Se antes nos preocupávamos com as notas, agora lutamos para que os nossos saldos não fiquem vermelhos. No âmbito pessoal, fazemos amigos, conhecemos os pilantras, enfrentamos pessoas intragáveis, somos perseguidos - o professor é o chefe de logo mais e exercitamos o sadismo nosso de cada dia, derrubando de uma vez por todas a tal "inocência infantil".

Poderíamos até chamar a escola de "academia de adestramento", mas isso soaria radical, já que mostrar e adaptar as crianças para o mundo é uma prática pra lá de antiga. Um bom exemplo disso é a fábula "A Cigarra e a Formiga", escrita por Jean de la Fontaine com o intuito de educar o futuro rei da França Luis XIV - o Rei-Sol. Após todos esses anos, ela é passada para as gerações seguintes e sua moral continua sempre atual, fruto da simplicidade das fábulas: os que não pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço pela sua imprudência. Logo, a escola nada mais é do que uma preparação, mesmo repleta de erros, para o futuro.