terça-feira, 28 de julho de 2009

ABOUT SAUDOSISMO

Segundo o dicionário, a palavra saudosismo significa ter apego ao passado, ter fidelidade a ideias, usos ou costumes que não são mais admitidos ou tendência a elogiar o passado ou coisas relacionadas a ele. De qualquer forma, o saudosismo é uma espécie de virus que todos nós temos e muitas vezes não admitimos. Já os seus sintomas, variam de acordo com a pessoa.

Quando nos remetemos ao passado, lembramos imediatamente que éramos mais jovens e assim tudo parece ter mais cor. A brisa juvenil que as memórias trazem do passado pinta uma aquarela viva, de sabores e cores realçadas, o coração palpita mais forte e um turbilhão de lembranças e bons momentos nos inebria. As dificuldades de outrora já estão superadas, esquecidas, anestesiadas. Como é bom lembrar do passado, ainda mais quando estamos entre amigos. É uma fartura de risos.

O saudosismo apesar de ser benéfico, é por vezes míope. Não lembro de ninguém, ao fazer comparações, dizer que atualmente é melhor que o passado, principalmente quando o assunto é praticidade e comunicação. A telefonia evoluiu muito dos tempos da ficha pra cá, ninguém parece trocar mais cartas na era dos emails, o vinil morreu, o VHS também e hoje em dia podemos conversar e trocar mensagens com pessoas do outro lado do mundo.

Mesmo assim, sentimos saudades do vinil, de certos programas de TV, do VHS, da fita k7, do mundo bipolar, dos vales de papel, de um mundo onde as coisas eram um pouco mais lentas. E todos nós éramos mais jovens. O mundo era mais colorido, mesmo quando as imagens da tv eram em preto e branco. As dificuldades eram mínimas, a vida era mais simples e a gente era feliz e não sabia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

100 ANOS DE GRENAL

No linguajar futebolístico, um "derby" é quando duas equipes rivais de uma mesma cidade se enfrentam. Enquanto no Brasil, o nome mais usado para esse tipo de confronto é "clássico", lá no exterior esse termo é usado quando duas equipes arquirrivais são de cidades diferentes, como no caso de Real Madrid e Barcelona. Já no Brasil cada cidade grande tem o seu, mas que me perdoem os torcedores de outros times e moradores de outras partes do Brasil, não há no país rivalidade maior que a de Grêmio e Internacional.

Ambos não figuram entre as maiores torcidas do Brasil, estão longe demais das capitais mas por que é a maior rivalidade do país? Há uma série de fatores. A principal com certeza é a relação de amor e ódio. Uns apontam o equilíbrio e a intensidade da disputa dentro e fora do campo. Há quem diga que é pelo fato da divisão ser severa dentro do Rio Grande do Sul, já que em outros lugares há mais de dois times grandes e tradicionais. Mesmo assim, há estados em que, mesmo com times grandes compondo um derby, muitos de seus habitantes preferem torcer pra times de fora, coisa praticamente inexistente na terra do gre-nal.

Em um século de existência, foram 376 confrontos, com 141 vitórias coloradas, 118 gremistas e 117 empates. Ambos são campeões nacionais (o Inter tem três nacionais e uma Copa do Brasil enquanto o Grêmio tem dois nacionais e quatro copas), da Libertadores e até um Mundial Interclubes pra cada lado.

Um sempre leva a vantagem no outro em algum quesito. Se um tem, o outro se mobiliza e corre atrás pra conquistar também. Não importa se é um título ou até mesmo um projeto de modernização de seus estádios. No Sul, ou você está de um lado ou de outro e isso se aprende desde cedo ou como diz o colorado Luís Fernando Veríssimo, a escolha acontece no exato momento em que você pisa no aeroporto.

Essa dicotomia tão radical foi capaz até mesmo de mudar atitudes de empresas patrocinadoras. Basta ter como exemplo uma marca de refrigerantes que teve de mudar a placa de publicidade no Olímpico só por ter as cores do Inter. Houve casos em que o patrocinador - principalmente se tiver sede em Porto Alegre - teve de ser o mesmo para os dois times, pra evitar perda de clientes e consumidores. Outro exemplo que ilustra bem o teor da rivalidade são os documentários. O Grêmio fez um documentário contando a saga da "Batalha dos Aflitos", quando o time voltou à primeira divisão e em resposta, o Inter fez outro tendo como tema a conquista do Mundial de Clubes no Japão.

Uma típica rivalidade tem em seus ingredientes disputa acirrada, revanchismo eterno, provocações e até um clima de guerra. No caso gre-nal, a guerra é declarada e dificilmente um jogador que teve identificação com um lado terá com o outro. Os que chegam aos clubes imediatamente são tomados pela rivalidade. É justamente essa intensidade tão forte a ponto de derrubar qualquer sombra de imparcialidade que faz a diferença. Quando se fala em gre-nal tudo é tão intenso que se passa dos limites do normal.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

LOS PINCHES CAMPEONES

O Estudiantes calou a boca de 60 mil cruzeirenses e milhões de brasileiros que adoram secar qualquer coisa que venha da Argentina ou fale espanhol e sagrou-se em pleno território inimigo tetracampeão da Libertadores da América. Los pinches - como é conhecido o time e os torcedores do Estudiantes - tiveram de esperar 39 anos por esse momento. A imagem do Verón beijando e levantando a taça certamente ficará eternizada na história do futebol. Já o Cruzeiro, manteve a nova escrita do futebol: times brasileiros amarelando na final da Libertadores.

Brasileiros adoram dizer que os hermanos são arrogantes, marrentos, mas a verdade é que os caras são mesmo estourados, abusados e malandros. E isso é o que mais adoro, quando o assunto é futebol. Nada melhor do você ganhar na casa do seu adversário e nesse quesito, os argentinos são doutores. Quanto menos coisas a favor, melhor. Serve de combustível. O problema é que o futebol brasileiro, passado 40 anos de Libertadores, não aprendeu e continua fazendo vexame. Os números não mentem: a Argentina tem 22 Libertadores e apenas 8 vices enquanto o Brasil tem 13 taças e 15 vices.

O Cruzeiro merecia levar o titulo pra Belo Horizonte? Pela campanha e pelo futebol que jogaram durante a competição, sim. Seria ótimo pro futebol do Brasil. Mas só pelo clima de "já ganhou", pelo menosprezo da própria mídia nacional em relação ao Estudiantes e pela postura apática, nervosa e sem sangue - o Ramires tava com a cabeça na Europa e nem aí pro jogo - a taça está em La Plata merecidamente.

O que falar de dois ou três mil torcedores que encararam mais de 50 horas de estrada e ainda tiveram a disposição de gritar e cantar como se estivessem em casa a ponto de fazer muito mais barulho que os 60 mil cruzeirenses, que estavam no conforto de sua arena/casa? Catimba? Milonga? Arrogância? Fanatismo? Não, meus caros. Eu vejo também a raça, paixão, técnica e uma entrega descomunal em campo. É por isso que eu torço descaradamente pro futebol argentino. Parabéns, los pinches!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

DIA DO ROCK

No dia 13 de julho se comemora o "Dia Mundial do Rock". A celebração começou em 1985, quando nesta mesma data, foi realizado simultaneamente em Londres e Filadélfia, Estados Unidos, o Live Aid, organizado por Bob Geldof e com a intenção um tanto utópica de acabar com o problema da fome na Etiópia. O evento foi transmitido para diversos países e reuniu um belo cast de estrelas do rock/pop. Em 2005, Bob Geldof retornou com a bela iniciativa do Live Aid e expandiu tudo: das reinvidicações ao cast, das transmissões às cidades sedes.

Durante anos a data recebeu a poeira do esquecimento, sendo lembrada esporadicamente. Com o passar do tempo, as rádios e estações de TV viram na data uma boa desculpa cínica para por na sua grade de programação matérias um tanto equivocadas sobre o assunto e seu riquíssimo acervo roqueiro que estava, assim como a data, recebendo banhos de poeira nas estantes. Nada como uma anistia aos ouvidos.

Há de convir que é sempre bom ligar a TV e ver alguma coisa que preste. Logo, a data serve também para nos livrar, por pelo menos um dia, daquela ditadura tenebrosa do hip-hop americano, com suas Britneys, 25 Cents da vida e tranqueiras afins. Mesmo assim, o rock é grandioso demais pra ser homenageado num dia e quem gosta - assim como eu - desse velho teenager cinquentão, sabe que ele é de fato celebrado todas as vezes em que nos dirigimos aos bares pra assistir uma banda ou simplesmente ter o prazer de beber e se divertir ao som das bandas que tanto admiramos.

sábado, 4 de julho de 2009

MEMÓRIAS DELETÁVEIS

Com a velocidade em que as coisas ocorrem nos dias de hoje, as nossas memórias e registros a cada dia se tornam mais descartáveis. Nos livramos das imagens muito mais fácil do que antes. Parece contraditório se percebermos que o número de fotos e vídeos provavelmente tenham quadriplicado em relação ao somatório das últimas duas décadas. Mas naquela época tudo era analógico e o mundo parecia andar mais devagar.

Basta ter como exemplo a fotografia, ainda mais usada como registro de imagens, memórias, momentos, o que seja. Eu me lembro muito bem que levávamos - e isso não tem tanto tempo assim -, máquinas analógicas grandes, daquelas que era necessário um filme com número X de poses para eventos importantes. Tirávamos as fotos, fazíamos poses sem direito a segunda chance. Não existia aquela coisa de "deixa eu ver como ficou" e "deleta e tira de novo". Revelávamos as fotos e dias depois estavam todas no álbum, inclusive as reprováveis, com poses estranhas, risíveis e tudo o mais.

Tudo mudou. Clicamos pra frisar a imagem. Gostou? "Control C" e guarde numa pasta em um PC qualquer. Não gostou? Delete e tire de novo. A dinâmica é outra. Não há mais X poses por filme e sim tantos "mega" de espaço e tantos "pixels" de qualidade. Não precisamos de mais negativos para duplicação. Os álbuns de fotografia são pastas de arquivos num PC. Não nos reunimos em volta dos álbuns já que agora está tudo no computador. Deletamos, duplicamos e armazenamos como bem entendemos.

Ao que parece, as facilidades que a tecnologia nos trouxe transformaram os registros e memórias em algo meramente descartável. Não que no passado não se jogava fora, mas isso era algo mais difícil de acontecer. Não nos reunimos com nossos amigos e parentes para degustar e lembrar dos fatos em volta dos álbuns. Deletamos. Copiamos. Colamos. Esquecemos e nos distanciamos na velocidade dos avanços.