terça-feira, 30 de dezembro de 2008

TROCANDO FOLHAS

E mais um ano vai embora. Mais uma página virada. Mais um calendário na última página, prestes a cair e ceder lugar a outro novinho. Doze meses passaram muito rápido. Sei que muitos compartilham da mesma opinião. Agora é pensar no ano que está chegando. Que venha mais 12 meses! Que venha 2009!

Não vou por aqueles velhos clichês de paz, harmonia e todas aquelas coisas que você todo fim de ano lê. É tempo de comemorar, beber todas, estar com as pessoas mais queridas, pensar e se banhar de energias positivas. Deixe a sua dieta pra segunda! Pense nas novas promesas e porque não naquelas que você não concretizou? Todos nós temos alguma!

Então é fim de linha. Hora de trocar as folhas e renovar o contrato por mais um ano. E que renovem sempre repletos de energias positivas. Lembrando sempre que o tempo é o verdadeiro senhor do universo: impiedoso porque não volta atrás, misericordioso por ceder a todos nós um futuro infinito de chances. Feliz 2009!

STEVEN SEAGAL RULES!


Estava folheando uma edição especial da Guitar Player pouco tempo atrás e deparei-me com uma matéria sobre Steven Seagal. Fiquei intrigado, pois jamais imaginei encontrar a foto de um dos meus ídolos ali, perto do Alex Liefson (Alex is God!), outro cara que sou fã de carteirinha. Mas o que poucas pessoas sabem, é que o mestre Seagal manda um blues de extrema qualidade.

Nesta semana pude finalmente escutar o trabalho de Steven Seagal como músico: Mojo Priest é um álbum com 14 blues de primeira linha, belas melodias, excelentes backing vocals e surpreendente, não só pelas composições mas também pelo fato inusitado. Já Songs From the Crystal Lake flerta com alguns elementos modernos, mas nada que assuste os puritanos.

Ao ler a matéria e a entrevista, pude conhecer o outro lado - bastante desconhecido - de Steven Seagal. Ele falou sobre suas influências, os grandes nomes do Blues, citou outros nomes pioneiros e ainda descreveu com detalhes o processo de gravação do seu CD: suas guitarras, amplificadores e timbres prediletos, como ele trabalhou as texturas sonoras no seu trabalho e claro, sua paixão pela música.

Além de mestre de aikido, o cara manda bem pra cacete na guitarra. Esse é o Steven Seagal!

domingo, 21 de dezembro de 2008

MUNDIAL DE CLUBES - Pt 02

Após o apito final da disputa entre Manchester United e LDU, os jogadores do clube britânico apenas cumprimentaram os adversários derrotados e depois se juntaram. Frios, com aquele ar "blasé", pareciam ter disputado apenas mais um amistoso na Ásia. As reações foram mais do que a comprovação de que clubes europeus menosprezam a competição.

Apesar de tudo, lembro bem da comemoração dos italianos quando o Milan conquistou no ano passado o quarto título, assim como a luta do Liverpool pra empatar o jogo com o São Paulo. Coisas bonitas de se ver e que engrandecem ainda mais a cena toda. Isso leva a crer que há exceções na Europa que valorizam o torneio. Afinal, quem não quer ser o melhor do mundo?

Não era nascido quando o Flamengo ganhou em 1981, mas me disseram que o feito adiantou o carnaval carioca pra alguma madrugada de dezembro. A mesma coisa aconteceu em Porto Alegre há exatos 25 anos, quando o IMORTAL levantou a taça em 1983. Citar as comemorações argentinas seria chover no molhado, pois sabe-se muito bem que nossos vizinhos são muito mais craques nesse assunto do que nós, brasileiros. Mas até hoje, tenho que admitir, não vi nada igual a explosão da torcida do Inter no momento do gol contra o Barcelona.

Tudo bem que a Champions League é mais dificil - e quem acha que a Libertadores também não é? - são vários jogos, mas eu sempre vi as duas competições como o caminho até o topo do mundo. Não gostei nem um pouco do jeito arrogante dos jogadores. Achei a atitude dos "devils" bem babaca, diferente da torcida, que parecia estar bem mais animada na arquibancada no Japão. Com certeza se os equatorianos tivessem ganhado a partida, teria visto um final muito mais alegre. Afinal, tem festa maior do que ganhar um título? Coisas do futebol.

MUNDIAL DE CLUBES - Pt 01

Para os amantes do esporte bretão, dezembro não é somente o mês das festas de Natal e Ano Novo. Dezembro é o mês em que se disputa, no Japão, o Mundial de Clubes. O torneio já teve diversas formas de disputa. De 1960 a 1979, eram dois jogos: um na Europa e outro na América do Sul. Devido aos inúmeros protestos dos clubes europeus - que alegavam falta de segurança e até deslealdade -, a disputa passou a ser decidida em Tóquio em apenas um jogo. A FIFA então decidiu entrar de vez na jogada e passou a organizar a competição inserindo times dos outros continentes (Ásia, Oceania, África e América do Norte) para dar uma dimensão maior e solidificar ainda mais o nome "mundial" dado á competição. Mesmo assim, latino-americanos e europeus continuam com os duelos na final.

Sou da geração que tinha como sonho ver seu time chegar ao Japão em dezembro e não idolatrávamos times europeus como se fossem os nossos, coisa típica dos dias de hoje. Lembro que naqueles tempos pré-globalização e internet, nós, pobres latino-americanos sem dinheiro no bolso, tínhamos que ficar acordados de madrugada (de sábado pra domingo), ansiosos para ver a grande final. Lembro bem que nós brasileiros só assistíamos ao jogo quando algum time tupiniquim chegava lá: Flamengo em 81, Grêmio em 83, São Paulo em 92 e 93. De 95 pra cá, os jogos passaram a ser disputados á noite - no Japão.

Os tempos são outros. Os canais a cabo transmitem o jogo independente de quem esteja na disputa - o que é louvável para os amantes do futebol -, nossos melhores jogadores estão na Europa, fazendo com que muitos jovens passem a torcer por times europeus, os mesmos que menosprezam um pouco a competição. No somatório - desde 1960 -, são 25 conquistas sul-americanas contra 23 européias. O Brasil já levou 9 vezes a competição: Além das já citadas no parágrafo anterior, soma-se á lista os feitos de São Paulo (2005), Corinthians (no único mundial disputado fora do Japão, em 2000, no Rio de Janeiro) e Internacional (2006).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O DESASTRE E A PERFEIÇÃO

Analisando friamente os fatos relacionados a eventos (e os resultados no futebol) do nosso gigante impávido colosso Brasil varonil, cheguei a uma conclusão que sempre repito nas mesas de bares, conversas e deixo aqui no blog. A conclusão que cheguei pode tanto jogar pá de cal nas rivalidades existentes entre tribos - quer dizer, estados -, assim como inflamar ainda mais a discussão.

Começamos então pela PERFEIÇÃO. O evento perfeito é organizado por paulistas e animado por cariocas. A praia é nordestina e o churrasco - unanimidade nacional - é gaúcho.

E o DESASTRE? Simples. Organização carioca, animação paulista, churrasco nordestino e praia gaúcha.

Paulistas são super organizados, tem mentalidade de sindicato (vide o radicalismo no futebol e nas tribos urbanas). Cariocas são ireverentes, despreocupados. Bom, apesar de ser algo que não deva ser levado muito a sério, ele explica muita coisa. É isso.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

CONTROL (2007)


O longa-metragem "Control" conta a história do ícone Ian Curtis e da sua banda Joy Division na cinzenta e tediosa Manchester do final dos anos 70. O filme é o primeiro trabalho do fotógrafo holandês Anton Corbijn como diretor de cinema. Filmado em preto e branco, o filme traz Sam Riley no papel do protagonista e Samantha Morton como sua esposa Deborah. Baseado no romance "Touching From a Distance", de Deborah Curtis, viúva do cantor, o filme relata com muitos detalhes a trajetória de Ian e do Joy Division. Na trilha sonora, nomes como David Bowie, Iggy Pop, Roxy Music, Lou Reed, Sex Pistols e Buzzcocks marcam a presença.

Ao mesmo tempo em que relata de forma profunda a vida pessoal de Ian Curtis - ataques epiléticos, sua vida cotidiana, como conheceu Deborah, seus conflitos, sua amante belga Annik, suas inspirações e influências - o filme mostra também os detalhes de como surgiu o Joy Division, da sua criação a ascenção em pouco tempo. Do encontro no show dos Sex Pistols em 76 e o surgimento do Warsawa, para logo em seguida trocarem para o nome definitivo (um prostíbulo para soldados nazistas), os fatos que levaram Ian Curtis a escrever clássicos como "She's Lost Control", "Candidate" e "Love Will Tear Us Apart". A costura entre os diálogos e as músicas, tanto das referências como as próprias do Joy Division funcionam muito bem, dando dinâmica ao filme. Essa característica mostra claramente o fato do roteiro também ter como auxílio as letras da banda.

O Joy Division com suas músicas repletas de angústia e melancolia não só influenciou muitas bandas pós-punks e darks (a lista vai de U2 a Legião Urbana) assim como as bandas pops dos anos 80. Após o suicídio de Curtis em maio de 1980, na véspera do que seria a primeira tour do Joy Division nos Estados Unidos, os remanescentes decidiram formar o New Order, uma das bandas mais bem sucedidas dos anos 80. Com uma enorme importância histórica e com tanta dramaticidade envolvida, o filme é mais do que merecido.

JÁ É NATAL?

Da segunda metade de novembro até o dia 24 de dezembro, as ruas se transformam num formigueiro decorado em vermelho, verde, dourado, prata, renas, papais noéis e figuras típicas do polo norte, completamente deslocadas do nosso clima. O que era um formigueiro, se transforma em algo muito pior. Anúncios, ofertas, promoções. É época de natal.

Pelo que me consta, o natal é no dia 25 de dezembro, mas nossa ânsia é tão grande que já comemoramos na véspera e planejamos com quase um mês de antecedência, a festa do nascimento de Jesus. Não sou religioso e também não sou daqueles chatos radicais. Há quem diga que é data pra reflexão, desejar paz e aquelas hipocrisias de sempre. Há também quem simplesmente por serem ateus ou qualquer coisa simplesmente preferem comer pizza e ver TV. Gosto do natal porque tem muito presente e muita comilança. Mas confesso que sempre fico assustado com o frenesi que essa data desperta.

Mas a pergunta que fica é a seguinte: já é natal? Sim, dizem muitos no embalo do comércio. Não, dizem outros mais coerentes com o calendário e dizem que é só no dia 25, embora a sombra da véspera permanece presente na cabeça. Enquanto os formigueiros feitos de asfalto, ferro e gente seguem na frenética procura por presentes, seguimos todos com essas confusões do cotidiano, impulsionadas pelo comércio. Mas natal mesmo, só no dia 25.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

TABU RACISTA

O racismo é uma praga onisciente na sociedade. Nada melhor pros tacanhos e hipócritas de plantão do que você pegar alguém diferente de você pra bode expiatório, por pura ausência de respnsabilidade. São muitos os exemplos, mas prefiro que você enumere mentalmente enquanto lê e, de quebra, faz um exercício de consciência, sem precisar de feriados.

Já há tempos que venho observando uma outra forma de racismo. Quando perguntam como são meus pais eu disparo: "meu pai é negão e minha mãe é morena, daquelas bugras que tem lá no sul". Todas as vezes que falo isso, observo a cara de espanto. Não é pra menos: sou branquelo o suficiente pra acharem inimaginável e porque não engraçado, no bom sentido da coisa. Mas se você analisar bem, vai ver um olho puxado e uma cara redonda (herança ameríndia), nariz chato e lábios grossos (herança negra). É só ver a foto! Sem contar que estamos no Brasil.

A cara de espanto continua e insistem em saber a "tonalidade" da cor do meu pai. O racismo entra em cena. Rolam aquelas comparações: "é mais escuro ou menos escuro que fulano?" Independente de "tonalidade" - embora seja absurdo -, a resposta é unânime: "ah! seu pai não é negro! ele é mulato, moreno, pardo..." Tabu de vísceras escancaradas.

Deve ser muito difícil pras pessoas racistas terem que admitir que meu pai é negro. Vergonha? Tabu? Por que meu pai não pode ser negro? Fico ás vezes sem entender, mas eu sei o porquê dessas reações. Deve ser da mesma forma que é difícil o cara dizer que o parente é homossexual e o fulano é gay, viado, etc.

De qualquer forma, quando pessoas de cores diferentes apertam as mãos, a sombra refletida no chão não faz distinção alguma, pois todos sabem que são duas pessoas se cumprimentando.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

BATALHA DOS AFLITOS



Dia 26 de novembro de 2005 poderia ser mais um dia qualquer na folha do calendário. Mas lembro bem que era um sábado de calor. Náutico e Grêmio decidindo quem voltaria a série A do ano seguinte. Mais um jogo decisivo? Dizer isso seria pouco. Aquele dia ficou marcado pro resto da vida dos milhões de gremistas espalhados pelo Brasil e mostrou o porquê do futebol ser o esporte mais apaixonante e imprevisível que existe, capaz de levar pessoas á loucura.

Aos 35 minutos do segundo tempo, pênalti a favor do Náutico. O castigo estava prestes a se prolongar por pelo menos mais um ano. Em questão de segundos, a partida virou uma verdadeira batalha campal: torcida vociferando, policiais degladiando com os jogadores gremistas, dedos em riste, catimba, ameaça, porradaria, empurra-empurra, jogo paralisado. A cena dos jogadores evitando a todo custo que o juiz levasse a bola pra marca do penal foi uma das demonstrações de revolta mais intrigantes que já vi. Lá em casa, assim como em todo o Brasil (sim porque o Grêmio é time grande o suficiente pra ter torcedores além do sul!) onde havia um gremista, pairava um misto de angústia, sofrimento, revolta e tristeza. O Grêmio perde 4 jogadores.

Mas é justamente nesse momento que a mística inexplicável daquela camisa azul, branca e preta, daquele time do sul do Brasil, que escolhi pelo espírito de luta, garra, força, de não se entregar nunca. Time que escolhi também por causa da minha avó. A mesma camisa tricolor que desperta sentimentos apaixonados, que faz me lembrar das raízes gaúchas da família.

Preparar. Apontar. Atirar. O tiro bateu na canela do goleiro. Puta que pariu! Coisas que só acontecem com o Grêmio! Porra! Jamais vou esquecer dos 7 jogadores restantes correndo esfuziantes em direção ao Galato, que naquele momento encarnava o messias de uma religião chamada Grêmio de Futebol Porto Alegrense. Minha avó já chorava, eu e a mãe só gritavamos e pulávamos feito loucos. Sim, ser gremista é ser louco, apaixonado e principalmente, barulhento. Nos Aflitos, 20 mil torcedores atônitos. Fora dali, milhões gritando, explodindo, expondo seus corações ao limite. Não consegui conceber na cabeça a imagem da defesa até o momento do replay. Confesso que até hoje quando revejo as imagens, vejo algo tão diferente que não consigo explicar. Há coisas que não devemos entender, devemos sentir.

Já havia anoitecido em Recife e o Brasil esperava saber quem voltaria a elite no ano seguinte. Eis que um moleque negro, de 17 anos pega a bola, dribla como se estivesse em qualquer desses campinhos pelos subúrbios e várzeas espalhados por aí. Deixa um, dois, três, pra trás, invade a área e marca um golaço. Final de jogo.

Uma catarse tricolor. Eu já não tinha mais garganta. Pela primeira vez senti na pele aquela velha história do cara que passa mal pelo clube do coração. Não larguei mais o manto milagroso do imortal. O Grêmio mostrava naquele momento para todo o mundo o que de fato é ser grande, é ter tradição. Respondia e calava todos. Lembro de ligar pros meus parentes em Porto Alegre e ouvir do outro lado da linha, um misto de fogos, gritaria, choros, risadas, uma festa só. Meu tio só gargalhava, como se estivesse em estado de choque. Ao ver o trailer do documentário sobre este jogo, vi que foram reações e momentos de todos os gremistas. Principalmente daqueles que não estavam em Porto Alegre e ligaram pra lá.

Quando me perguntam o porquê de um carioca torcer pro Grêmio, (aqui no Rio eu torço pro Vasco) sempre digo que além dos motivos ditos acima, minha famíla materna é gaúcha e todos lá torcem pro imortal. Foi a primeira camisa de futebol que ganhei quando tinha 4 anos. Mas basta ver o histórico de glórias e de façanhas como a dos Aflitos para calar qualquer um que venha importunar. Afinal, o time que chegou ao topo do mundo em 1983 é o mesmo que calou 100 mil vozes no Maracanã, 70 mil paulistas no Morumbi, ganhou 6 títulos nacionais (que gremista não lembra daquela bomba do Aílton em 96 aos 38 do segundo tempo?) e naquele momento não só calava 20 mil nos Aflitos, como deixava perplexos todos amantes do futebol, que justamente por não serem gremistas, jamais entenderão o suficiente o que aconteceu naquele 26 de novembro de 2005.

Como diz a letra do hino: "Até a pé nos iremos/Para o que der e vier/Mas o certo é que nós estaremos/COM O GRÊMIO ONDE O GRÊMIO ESTIVER.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

PROLE SABÁTICA - Pt 02

Definir o que é sludge, stoner e doom não é tarefa tão simples, já que são segmentos semelhantes. A linha que separa esses estilos que diversas vezes convergem entre si, é tênue o suficiente para atrapalhar bastante a definição. Poderia-se resumir em linhas gerais assim: guitarras e baixos distorcidos, clima psicodélico, denso e sombrio, andamentos lentos e influência quase onipresente e onisciente do Black Sabbath. Suficiente pros leigos? E pros aficcionados?

Generalizar e ignorar o que de fato caracteriza e enquadra as bandas como stoner ou sludge seria o mesmo que chover no molhado. Se você procurar na wikipédia encontrará, na lista de bandas stoner, sludge e até doom, nomes repetidos: Corrosion of Conformity, Crowbar, Down, Fu Manchu, Monster Magnet, Eyehategod, Electric Funeral... E pra piorar ainda mais a situação, você se depara com "subdivisões do subgênero": southern sludge, sludge doom, stoner metal, stoner doom, sludge stoner... Troque de lugar os nomes e terá um jogo completo pra se divertir e dar gargalhadas com o vício patético dos rótulos.

Começamos então pelo doom. O Doom é uma ramificação que teve origem na Inglaterra, no início dos anos 80. Caracterizado por criar uma atmosfera sombria e obscura, sua principal influência foram os primeiros álbuns do Black Sabbath, que muitos creditam ser o precursor do estilo. Há quem diga que o Wicthfinder General foi o pioneiro, em 82. Mas não se pode esquecer de Saint Vitus e Trouble, ambas dos Estados Unidos. Predominam os tons menores e pesados, andamentos arrastados e as letras abordam temas pessoais, angústia e desespero. Com o tempo, o gênero fundiu-se com outros do mundo do heavy metal, como o death e o black metal e consequentemente, surgiram dezenas de subgêneros.

O Stoner Rock é caracterizado por riffs graves, lentos, pesados, fortes influências setentistas e psicodélicas. A fonte dessas bandas é o hard rock setentista (Black Sabbath, Deep Purple e Blue Cheer, por exemplo) e até MC5 e The Stooges (os proto-punks). Podemos dizer sem pestanejar que o Kyuss foi o precursor do Stoner, com o álbum "Blue notes for the Red Sun". Os ex-integrantes mais tarde formaram o Queens of Stone Age. Outra banda bastante influente é o Corrosion of Conformity. O estilo cresceu bastante nos anos 90, com o surgimento de bandas como Orange Goblin, Down, Spirit Caravan e outras.

Por mais estranho que possa soar, o Sludge é a fusão do heavy metal com o hardcore de NY. Assim como o stoner, é caracterizado por riffs graves, lentos e pesados. Adicione muita cadência, andamentos muitas vezes arrastados, quebrados e atmosfera densa. O predomínio dos down-tempos, a atmosfera pessimista e melancólica (presentes também no doom) mesclados a agressividade do hardcore fazem do sludge um estilo bastante complexo. Podemos dizer que a primeira banda de Sludge foi a "The Slugs" - primeiro nome do Crowbar -, e o Eyehategod. Por ter sua origem na virada dos anos 80 para os 90 em New Orleans, Louisiana e muitas das bandas serem do sul dos Estados Unidos, o sludge sofre influência do rock sulista e do stoner rock, embora não seja uma regra. Um exemplo disso é o Neurosis: apesar de terem começado a carreira tocando HC, os caras redefiniram o sludge adicionando elementos "ambient" e progressivos, além de influenciar uma gama de bandas como Minsk, Isis e Kylesa, tornando assim uma referência quando o assunto é sludge.

Devido as similaridades - tanto no âmbito musical como pela proximidade geográfica - entre o sludge e o stoner há uma espécie de crossover entre os dois estilos. Apesar das semelhanças, o sludge se diferencia por se aproximar de letras politizadas (herança punk, assim como os andamentos d-beat), letras pessimistas que abordam abuso de drogas e a angústia, além de evitar a atmosfera positiva e psicodélica tão presente no stoner.

Resumindo, a receita é essa: junte muitas doses de Black Sabbath, uma pitada de hardcore, muita cadência, colheres de sons melancólicos, arrastados, densos, pesados e pronto: eis o sludge. Depois, você tira o hardcore e substitui por uma pegada setentista e garageira: eis o stoner. Ambos são excelentes pra bater cabeça, beber umas biritas, chapar a mente, cair na estrada... De qualquer forma, a meta aqui foi esclarecer algumas dúvidas, mostrar as origens e dividir informações. Espero ter ajudado. Garimpe as bandas. Se preocupe em curtir bastante o som, que é puro rock and roll! E dons bons!!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PROLE SABATICA - Pt.01

No mundo do rock quando surge alguma banda ou alguma cena fazendo coisas diferentes, logo surge um rótulo. Depois, o gênero profliera-se como gremlins na água e surgem inúmeros subgêneros pra confundir mais a cabeça das pessoas. Definições são por vezes perigosas, mas também diverte. Procure traduzir pra ver o que acontece.

Ultimamente ando viciado em Stoner Metal. Ou Sludge? Stoner Sludge? Sludge Core? Stoner Rock? Doom? Não importa. O que vale é que eu ando vidrado e estou muito feliz com esse vício, que não me parece ser novidade, já que todas as bandas seguem as diretrizes e sonoridades criadas pelo Black Sabbath e muitas outras bandas setentistas.

Há algumas em que sou fã de longa data como é o caso do Corrosion of Conformity e do Down. A grande maioria, eu agradeço a internet. Afinal, quem aí não conheceu banda pra cacete usando o PC? Quem não varou as madrugadas baixando arquivos em busca de novidades? Eu sempre me sinto o Indiana Jones quando vou em busca de raridades que habitavam meus sonhos antes da febre dos downloads. Bate também aquela sensação de Cabral quando descubro coisas novas também.

Segue a lista do que me acompanha nos últimos tempos: Corrosion of Conformity, Orange Goblin, Down, Alabama Thunderpussy, Crowbar, Monster Magnet, Superjoint Ritual, Soilent Green, Trouble, Solitude Aeturnus e claro, Black Sabbath.

COME TO THE SABBATH


Sempre fui fã convicto e perdidamente apaixonado pelo Black Sabbath. A coisa toda aconteceu quando eu tinha 13 anos e estava conhecendo o mundo do rock. Como todo adolescente, queria agarrar o mundo com as mãos e escutava de tudo, sem um senso crítico apurado. Mas tudo mudou quando eu vi uma foto no alto da loja de discos. Estava escrito "BLACK SABBATH" e não precisava dizer que aquela foto foi tirada nos anos 70. A imagem do garoto loiro de cabelos lisos, com outros três bigodudos de cabelos pretos, usando uma espécie de "black power pra branco", cheios de cruzes e vestidos de preto me intrigou.

Lembro de ter chegado em casa e depois do jantar, fui perguntar pra mãe: "Você conhece o Black Sabbath? Eles são da sua época né?". Eu naquela dúvida típica em busca de orientações. "Sim. São bem antigos e TOCAM PRA CARALHO!" Meu pai consentiu: disse que tinha o 'Paranoid" e rolava em festinhas, nos velhos tempos. Não sabiam que naquele momento, estavam prestes a mudar minha vida.

Não lembro do momento e do dia exato em que fui apresentado ao som do quarteto inglês. Mas posso descrever até o fim dos meus dias a sensação de ter escutado, o álbum que escutei pela primeira vez, "Paranoid". Arrepios na nuca, uma vontade automática de bater cabeça, uma puta catarse. Acordes sombrios, frases diminutas, um blues mais brutal. Sim. Definir Black Sabbath é isso: sombrio, pesado, denso, brutal. Um verdadeiro estrago, que já dura exatos 40 anos.

Um vizinho tinha o vinil e tratei de apagar uma fita K7 do meu avô sobre espiritismo (Triângulo das Bermudas) tamanha era a fome de escutar em casa. Poderiam até achar que isso é mais um clichê daqueles que envolve a banda e o heavy metal por tabela, mas a coisa aconteceu praticamente como obra do acaso.

Poderia escrever uma bíblia enaltecendo a banda e os clássicos que estão registrados na história da música ou falar sobre a importância do Black Sabbath. Mas não importa. O legado deles responde tudo. De qualquer forma, meu encontro com Bill Ward, Geezer Butler, Tony Iommi e Ozzy Osbourne foi a coisa mais importante que me aconteceu até agora. O Black Sabbath me levou ao mundo do heavy metal. E mudou minha vida.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

DROPS DE FUTEBOL



Paixão é uma coisa muito interessante. Ela nos leva ao radicalismo, atitudes extremas como o crime passional, nos deixa míopes e porque não completamente cegos. É uma ardência que em certos momentos serve de analgésico de si mesma. E não há esporte no mundo que traga doses cavalares de emoção e paixão como o futebol

No ultimo fim de semana eu vi uma cena que não durou mais que 15 segundos, mas foi o suficiente para minha reflexão e confirmar uma série de pensamentos sobre o mundo do futebol. Como estava sem nada pra fazer, fui assistir o Luciano Huck e de quebra, ver as tais "Musas do Brasileirão". Foi quando o ex-jogador Vampeta retrucou uma brincadeira do apresentador: "Poxa cara, tu acha que eu realmente tô ligando pra tradição? A gente joga e nem sabe a história do clube que a gente tá jogando!"

A frase ficou no ar e muita gente nem deve ter percebido o fato. A frase dita pelo jogador, ilustra a realidade: o que importa é a grana no bolso e não a camisa que está jogando. Que se dane a torcida e se o time atravessa má fase, jejum de vitórias, ganhou N campeonatos, foi a escola do craque que fez história com a camisa amarela. Essa frase poderia servir de alerta pra muita gente, principalmente as torcidas organizadas, que se comem na porrada em clássicos ou ao longo das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro (mas que pode ser também argentino, inglês, italiano...).

Não importa o resultado: o cara tira a camisa, sai do estádio, vai pra noitada, enche o pote, enfia a narina, come quem vem pela frente e engorda a conta bancária. Logo estará num outro time fazendo a mesma coisa, se preocupando somente em saber o nome novo clube. Do outro lado, o que importa mesmo é vestir as cores da organizada, sair na porrada pelas ruas da cidade, quebrar o que vier pela frente, impor o terror sob a bandeira da covardia. Um sacia a fome de grana e sexo. O outro sacia a sede de sangue e reputação. Um farrista travecado de atleta. Um bandido travecado de torcedor. Dois lados completamente diferentes de uma mesma moeda.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

HALLOWEEN!


Hoje é dia das bruxas. A nossa cabeça associa logo as imagens de abóboras, morcegos, fantsaminhas, monstros e todos aqueles apetrechos que a gente esbarra nos cursinhos de inglês nessa época do ano. Aliás, os cursinhos de inglês, assim como os filmes e seriados, difundiram tão bem essa festa que hoje em dia é normal no Brasil acontecerem festas comemorativas.

Diferente do que muita gente imagina, a origem dessa festa remete aos celtas, ao paganismo. Ela chegou nos Estados Unidos através dos imigrantes irlandeses e lá recebeu todo esse "layout" que conhecemos atualmente. Vale a pena pesquisar sobre a festa, que lembra, muitas vezes, ao nosso "Cosme e Damião", devido ao fato das crianças caçarem doces pela vizinhança. (o famoso "trick or treat": doce ou travessura)

Além de todas essas imagens ditas anteriormente, minha mente associa o halloween a filmes B, "Hocus Pocus" (quem se lembra desse filme? Sarah Jessica Parker muitos anos luz de "Sex and The City"? E Thora Birch? a pirralha antes de se transformar naquela bela adolescente em Beleza Americana?) e obviamente, uma das bandas mais fodásticas de todos os tempos e pra mim, a melhor banda de punk rock do universo, THE MISFITS!!

Bonfires burning bright/Pumpkin faces in the night/I remember Halloween!

Dead cats hanging from poles/Little dead are out in droves/I remember Halloween!



OS CABEÇAS DE VENTO (1994)



Os filmes quando chegam ao Brasil costumam receber, por diversos motivos, nomes que as vezes destoam completamente do título original e até do sentido da trama. Há alguns que escapam dessa maldição e “Os Cabeças de Vento” é uma das exceções.

A comédia “Airheads” de 1994, fala sobre uma banda de rock que seqüestra uma estação de rádio. Chazz (Brendan Fraser), Rex (Steve Buscemi) e Pip (Adam Sandler) membros do The Lone Rangers (Os Cavaleiros Solitários) não conseguem a atenção das gravadoras. Assim eles invadem uma rádio especializada em rock, com armas de brinquedo e obrigam o DJ Ian (Joe Mantegna) a tocar sua fita demo. Mas a fita está com um amigo parado no meio do engarrafamento. O locutor se recusa a esperar, os jovens sacam suas armas de plástico e prendem todo mundo na rádio, provocando grande confusão e conquistando a simpatia de vários roqueiros.

O filme, segue um pouco o espírito do cult “This is Spinal Tap” e tem como um de seus figurantes, o ilustre Lemmy Kilminster, do Mötorhead que segundo os integrantes da banda, é DEUS!! Há boas sacadas em pequenos trechos que provavelmente quem gosta de rock irá entender, como no momento em que um dos reféns está para ser libertado e perguntam pra ele: “quando Van Halen e David Lee Roth brigaram, de que lado você ficou?” Vale a pena ver Fraser e Sandler prestes a alcançar o estrelato, assim como a trilha sonora recheado do bom e velho rock and roll. Outra curiosidade é lembrar do tempo em que não existia my space e a troca de música pela internet - tão vital para as bandas independentes -, era um embrião sob o nome de Napster. O filme já foi figurinha fácil das madrugadas da globo, principalmente no final do ano. Saudades dos tempos das fitas demo. Vale conferir.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SPINAL TAP (1984)


Podemos definir o Spinal Tap como uma das maiores bandas inglesas de todos os tempos. Ou a maior e mais barulhenta banda de heavy metal também. Mas se preferir, é uma banda protagonista de um documentário, ou “rockumentary” como gosta de chamar seus fãs intitulado “This is Spinal Tap”.

Na verdade, “This Is Spinal Tap” é um documentário sobre uma banda fictícia de mesmo nome, dirigido por Rob Reiner e lançado em 1984. O filme foi inspirado no comportamento e no mundo das bandas de hard rock e heavy metal da época. Roupas cafonas e espalhafatosas, histórias bizarras de ex-integrantes, groupies, palcos cheios de truques, guerra de egos entre os integrantes, os bastidores da indústria fonográfica e toda uma série de clichês são alvo da sátira do documentário. Até mesmo o típico e carregado sotaque inglês nos relatos dos músicos - que imediatamente nos remete ao Judas Priest, Saxon e Iron Maiden, gigantes naquele tempo onde o heavy metal dominava as paradas de sucesso e os números de vendas -, não escapa das piadas.

Há de convir que pelo fato de conter várias piadas relativas ao mundo do rock e seus bastidores, é necessário um certo conhecimento deste ambiente para sacar o humor do filme. A modesta repercussão na época deve-se ao fato de grande parte do público não perceber que aquilo não era um documentário real. Entretanto, o filme alcançou sua aura cult após ser lançado em vídeo.

Os três principais membros do Spinal Tap — David St. Hubbins, Derek Smalls e Nigel Tufnel — são representados pelos atores Michael McKean, Harry Shearer e Christopher Guest, respectivamente. Apesar de fazerem o papel de típicos roqueiros ingleses (com direito a sotaque carregado e tudo!) os atores são dos Estados Unidos. Os três atores de fato tocam os instrumentos e cantam durante o filme. Rob Reiner aparece como Marty DiBergi, que produz o documentário e aparece com aquele típico boné de diretor de cinema, lembrando algumas vezes, o norte-americano Michael Moore.

O filme arrancou reações controversas dos astros do mundo do rock. Enquanto Steven Tyler e Eddie Van Halen não acharam graça alguma do filme, Robert Plant e Ozzy Osbourne confirmaram já terem se perdido ao entrarem nos palcos e bandas como Twisted Sister e Dokken acharam o filme engraçado e fiel a realidade.

Podemos dizer que o “This is Spinal Tap” foi o pioneiro de uma série de comédias satirizando bandas de rock e o Spinal Tap, a pioneira e mais bem sucedida banda-fictícia de todos os tempos. No Brasil, temos um filhote tupiniquim: “Massacration”, que também se inspirou nos clichês do heavy metal pra fazer piadas e até gravar um álbum.

domingo, 26 de outubro de 2008

SOL EM ESCORPIÃO

Saudações a todos! Depois de um bom tempo de hibernação este blog está atualizado. Coincidência ou não, o mês de setembro foi o mesmo das férias lá da senzala televisiva. Outra coincidência brilhante: volto a escrever na época de escorpião. Sinal de bons ventos para os nativos deste signo tão controverso e polêmico.

Não vou perder tempo falando sobre as características do signo. Acho melhor pesquisarem no google ou em sites voltados para a astrologia. O que não falta é fonte pra esse assunto. Eu não dava a mínima pra esses assuntos até perceber que havia embasamento e muita coisa era compatível com a realidade. De qualquer forma, prefiro me ater somente as características dessa fase da primavera.

Reza a astrologia que este período (23 de outubro à 22 de novembro) em que o sol está passeando pela casa de escorpião, é caracterizado pela metamorfose, grandes transformações, conflitos, o contato com profundezas psíquicas e com emoções de grande intensidade.

É momento de profunda transformação, uma fase de eliminação, de reciclagem, de conhecer o resultado de nossas interações emocionais e de como temos lidado com a sexualidade e com o poder. É como uma “cirurgia”, onde retiramos os resíduos do passado. Algo que está passando por uma desintegração, perda, mas ao mesmo tempo regeneração, revitalização.


Bom, é isso. Aproveitem esta fase para transformações e também pra pegar uma corzinha, já que o calor está infernal.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

COVARDIA ONIPOTENTE

Uma das coisas mais sujas e baixas que se tem notícia é o uso da necessidade alheia. Jogar e lucrar com a necessidade alheia é uma forma de humilhar e até escravizar, sujeitando pessoas a condições absurdas. Aprisionamento, humilhação, subserviência, escravidão, exploração. Palavras recorrentes em livros de história ou em páginas de jornal. Quem acha que isso faz parte do passado ou associou com alguma imagem de escravos no engenho, com certeza não vive no mundo de hoje.

O ato covarde de submeter uma pessoa a situações desagradáveis e desumanas pelo simples fato da dependência pela sobrevivência é um crime de proporções cósmicas: mexe com o lado material e espiritual da pessoa. Destruir uma esperança, cuspir no prato e mijar no sonho alheio embrulha o estômago e desperta a raiva. Mas a raiva precisa ser controlada pois não há como lutar de mãos amarradas. Ou você come ou você morre.

Instituições de ensino, empresas e até igrejas (seitas) formam o novo reich. A visão e a retórica sádica do lucro pela submissão acolhe rebanhos tal qual fizeram os nazistas na Europa. Exagero? O que difere o primeiro do segundo nesse caso, é que os nazistas exibiam as roldanas e os materiais de tortura e a nova aliança – empresas, cursos e igrejas -, prefere fazer de modo mais silencioso e muito mais eficaz.

A época movediça é também a do medo. Fiéis desesperados lotando igrejas e ginásios, doando o que não têm em busca de conforto e esperança e enriquecendo impérios da fé. Multidões em busca de uma vida no mínimo digna, se submetendo a trabalhos que beiram a escravidão e completamente fora das leis trabalhistas, jogando suas fichas numa esperança que só aparece na bandeira de uma país ingrato. Se você não quer, tem quem se submeta. Ou você cede ou sofre no fogo do inferno. É pegar ou largar. Eis a consolidação do sadismo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

NEUROSES E FANTASIAS PT3 - CONCURSOS PUBLICOS

A terceira parte da neurose não é tão diferente do que foi dito antes. Agora, o adolescente é um jovem á beira da vida adulta, ou aquele tipo que pensa em retardar ao máximo as responsabilidades. Formado, não tem mais a desculpa de não arrumar emprego por causa da faculdade. Estágio que era raro agora é inexistente. Bate de porta em porta e só recebe a frase célebre “aguarde que entraremos em contato”, uma boa maneira de bater na cara do candidato e dizer “não há vagas” ou “você não se encaixa no perfil da empresa”. A clientela dos cursos preparatórios pra concursos é muito mais heterogênea: além dos descritos acima, há também os que estão trabalhando e até constituem família e desempregados que apostam suas últimas fichas nos estudos.

A grande fixação agora é a busca pela estabilidade. Essa palavra é mágica para os ouvidos da classe média envolta em dívidas, cercada pelo monstro faminto do desemprego e cada vez mais achatada entre pobres e ricos. Afinal, é justamente esse povo neurótico que carrega o país nas costas. Promessas de salários carnudos, a tal estabilidade, garantia de emprego “forever” e uma série de vantagens a ponto dos candidatos enxergarem as repartições públicas como se fossem uns verdadeiros oásis.

Os mesmos abutres agora mudam o rótulo da embalagem, mas o espírito é exatamente o mesmo. Muitos exibem até os salários dos cargos ao invés da mensalidade. Gaiatos arrumaram um bom motivo para não arrumar emprego: “não posso cara, estou estudando para concurso”. O mais cômico é que a maioria dos concursos demoram anos pra sair o edital e mais um ano pras inscrições, isso quando não são adiados por tempo indeterminável.

Simulados, uma enxurrada absurda de informações, leis, códigos, apostilas, adendos, fórmulas e macetes milagrosos, aulas extras inclusive nos finais de semana e a promessa de que a redenção e os primeiros passos da estabilidade estão nas repartições públicas. Mas não avisam que são vagas para celetistas.

E nesse rebanho de desespero, há pessoas angustiadas com livros na cabeceira, no trem, no metrô, no busão. Nada mais é do que a prorrogação da angustia e da fantasia. Diferente dos vestibulares, os aprovados ficam naquela espera eterna ou nunca são chamados.

Só resta mesmo a esperança.

NEUROSES E FANTASIAS PT2 – ADOLESCENTES NO CURSINHO

Na adolescência, o dito cujo precisa passar no vestibular e seus pais, cientes de que a educação do colégio não deu muita base, jogam o teenager num cursinho. Rolam as crises: o guri num sabe o que quer ainda da vida – até porque com 18 anos é muito difícil fazer uma escolha que pode te sentenciar a vida inteira. A cada ano que passa, aumenta o numero de vestibulandos e candidatos a vaga, que conseqüentemente parece encolher cada vez mais. A neurose bate nas salas superlotadas de cursinhos tão caros quanto a mensalidade de uma faculdade paga. Mas a fantasia de ver o guri numa faculdade publica é maior então resolvem gastar mais. Não seria mais fácil entrar numa particular? Mas isso é sinal de incompetência ou muitos acham que pelo simples fato do formando ter saído da faculdade particular não conseguirá um bom emprego. Grande diferença...

Do outro lado da jogada, estão os empresários (rapinas) ávidos por grana. Sabendo que as neuroses são capazes de criar um mercado de consumo, eles montam os tais cursinhos pré vestibular, tão certos do lucro quanto dois mais dois são quatro. Como foi dito antes, as salas ficam tão lotadas quanto uma cadeia. Os professores precisam de grana, logo precisam lecionar, então, surgem mais vagas no cursinho. É uma junção de interesses em que todos saem felizes e realizados.

Compensar anos de erros em um curto espaço de tempo é um dos maiores equívocos – senão burrice – da vida e que sempre fizeram parte do tal “jeitinho brasileiro”. Provas, simulados, uma enxurrada absurda de informações, apostilas, adendos, fórmulas e macetes milagrosos, aulas extras inclusive nos finais de semana e a venda do discurso sedativo de que a redenção e os primeiros passos da estabilidade estão nos campi públicos. Todos preferem não enxergar que nos mesmos campi faltam infra-estrutura e vivem em greve.

Poucos são os felizardos. Ao invés de tentar de novo, entram na faculdade particular, coisa que poderiam ter feito no ano anterior ao invés de pagar um “cursinho”. Assim, já estariam no segundo período de qualquer curso, em vez de ficar perdendo tempo. De qualquer forma, tanto os formandos das públicas quanto as das particulares têm algo em comum: depois de 4 ou 5 anos, serão os novos desempregados do mercado saturado, pequeno e sem vagas do Brasil.

NEUROSES E FANTASIAS

Todos nós temos fetiches, neuroses e fantasias, por mais que isso seja negado. Fantasia de transar numa ilha deserta ou fetiche por sapatos – só pra ilustrar – fazem parte do nosso imaginário. Diferente do que muitos pensam, esse assunto não se restringe somente ao campo sexual e é errôneo achar que as duas coisas são a mesma coisa. Mas isso é assunto pra outro dia. Atualmente as fantasias e neuroses que encontro no cotidiano tem chamado bastante a minha atenção. Como identificar? Uso as palavras de Lair Ribeiro: “o óbvio só é óbvio para o olho preparado”.

A fixação e a fantasia se misturam e se intensificam na medida em que o tempo avança. A onda do momento é o tal “concurso público”. Mas quando era adolescente a paranóia atendia pelo nome de “pré-vestibular”. Ambos são parecidos e até se complementam, vendendo a idéia de redenção. Competição acirrada, uma maratona cruel e por vezes desleal. (É engraçado, mas sempre associo esses concursos com a briga dos “sptz” pra chegar ao óvulo) Algumas vezes, a primeira pode levar a segunda. Todavia, ambos vendem a idéia de que ali naquela sala de aula estarão desvendados todos os segredos.

A sociedade é uma grande tribo de hipocondríacos neuróticos. A cura é a busca incessante por uma estabilidade e isso é completamente compreensível. Vivemos com a corda no pescoço. Empregos vitalícios, salários robustos e vida mansa são um porto seguro numa época movediça e incerta. A bula são os editais e apostilas de concursos públicos. A corrida pelo ouro não sobe mais a serra pra Minas Gerais, isso ficou no século XVII. As diligências do século XXI invadem as salas de aula dos inúmeros cursinhos preparatórios. Todos apostando fichas e tiros no escuro. Tudo tem seu preço.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

AUTOBIOGRAFIA PRIMÁRIA

Era um dia calorento. Devia ser a primeira série primária e na primeira semana de aula recebemos a tarefa inaugural. Até hoje me lembro da cena e da tal tarefa: escrever uma redação com o título de “quem sou eu?”. Quem nunca escreveu uma redação dessas quando era criança? Não só lembro disso como da professora, Leila, uma loirinha recém chegada de São Paulo.

Na minha escola a gente tinha um caderno de redação, com folhas cinzas e divididas assim: uma pra rascunho, pra rasurar á vontade e outra pra passar a limpo, sem erros. Como tenho um grande problema de concentração, fiquei um bom tempo disperso, falando e pensando no que eu ia por naquelas linhas. Depois que escrevi a primeira frase, foi difícil parar. Até hoje é assim. Infelizmente lembro de muito pouco do que rabisquei, mas todas as vezes que encontro um “quem sou eu” pela vida, me lembro da sala de aula na primeira série.

Ao navegar na Internet e ver diversos perfis e blogs, percebi que reescrevemos nossa singela redação de primário ao longo da vida. Hoje em dia, você escreve sua autobiografia em perfis de sites de relacionamentos, ou joga tudo na mesa de bar entre amigos depois de várias cervejas. Se você está em busca de emprego, é claro que não vai dizer que é de Sagitário, torce pro Botafogo e gosta de Woody Allen.

Há uma tênue linha entre duas questões: “quem sou eu?” e “o que você já fez na vida?”. Pode ter certeza que essa confusão rolou lá na primeira série com a Tia Leila. É comum esse tipo de confusão, visto que uma influencia a outra diversas vezes. Procurar definir em poucas palavras nunca é o suficiente, mas também vale á pena. Ainda bem que existem os signos do zodíaco, que facilitam – pelo menos pra mim -, muita coisa.

De qualquer forma, essa é uma redação em constante mudança.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

RASURA DESTILADA

Destile todo seu ódio através da caneta. Todo aquele inconformismo, toda raiva, aquela carga acumulada. Um grito sufocado, uma resposta ou palavra não dita, uma frase mal interpretada, o soco esquivado, o cuspe desviado. Sempre tem uma pedra no meio do caminho que precisa ser chutada. Sempre surge aquela “persona” inconveniente a ser premiada com uma vulgar exibição de violência.

Eu encontrei nas palavras a minha arte marcial e a língua é o meu canivete. Descobri que as palavras são tão cínicas quanto singelas. Como sempre acreditei piamente no fato de que todo texto escrito é passivo de interpretação, fiquem á vontade. Sei que tenho a liberdade cínica de dizer: “mas não foi isso que eu quis dizer”!

Encontre a face a ser batida. O discurso a ser violado. Se alguém verá não importa, como também não importa como você atingirá ou o que será dito ao seu alvo. O que vale é atingir, incomodar, irritar. A válvula de escape é um bom remédio pra curar certos carcinomas. Todo mundo vive sua via crucis e necessita de catarse.

Lave a alma, respire fundo, tome um drink. Então, destile todo seu ódio na ponta das mãos, das línguas, das canetas... Mas sempre tome cuidado pra não acordar a vizinhança. O silêncio também vale como resposta.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

MÉNAGE AMIS

Já não havia muitas esperanças para Gustavo. Mais uma noite de sábado em casa, duro, sem perspectivas de noitadas regadas a biritas e uma possível sacanagem. Sua tristeza alternava momentos de aflição, pois toda vez que isso acontecia, tinha a ligeira sensação de que deixava de curtir a vida. Gustavo foi para a janela e observou, melancólico entre um cigarro e outro, o mar de luzes dos prédios e bairros vizinhos que se estendia além do Grajaú, Lins, Méier...luzes piscando nos prédios...nas favelas...carros passando, e mais luzes... Pensava na possibilidade de descer e pegar um ônibus ou qualquer coisa que o levasse mais rápido para um lugar e encher o pote. Não gostava de imaginar a boemia pulsante pelas ruas do Rio sem o ar da sua graça, pois a aflição o consumia ainda mais. Isolado no subúrbio. Longe demais das capitais.

Decidiu ligar para os amigos. Quando um não estava a fim de sair, outro teria que acordar cedo, isso sem citar aqueles que já estavam na rua. Os que estavam namorando, nem valia muito gastar impulsos telefônicos, pois sabia qual era a resposta. A sua angústia aumentava quando ele olhava para a sala de estar e presenciava a decadência: velhos sonolentos assistindo programas humorísticos de piadas imbecis, vencidas e sem graças na TV. “A TV é um lixo”, resmungou. Ficar no computador? Impensável! Sentia-se mal só de pensar, mas era a saída mais plausível para fugir do terrível monstro chamado tédio. Foi quando então seu celular milagrosamente tocou.

- Oi Gustavo, aqui é o Marcio! Anda fim de fazer alguma coisa?

- Porra, você salvou a minha noite de sábado! Vamos sim! A ultima coisa que eu quero é ficar em casa! Não agüento mais! Você me salvou aos quarenta e cinco do segundo tempo!

- Apareça lá em casa! Minha mãe foi numa festa em Nova Iguaçu e volta só amanhã de manhã. Vamos tomar umas cervejas, ver uns filmes, ouvir musica, enfim, se divertir um pouco.

Gustavo então desceu a rua todo sorridente, pegou um ônibus e chegou antes do previsto. Teve a sorte de pegar um 607 descendo a zona norte na velocidade do som (era a última viagem do motorista, que era a cara do Viola). Lá estava Marcio o esperando com o seu arsenal de DVD e cerveja. Podia não ser a coisa perfeita, mas valia a intenção. No inicio, Gustavo ficou um pouco sem graça, pois foi recebido pela namorada do cara. A empolgação para sair de casa foi tanta que ele nem se lembrou desse detalhe. Mas já era. Gustavo perguntou se tinha algum problema, se estava atrapalhando alguma coisa. Marcio disse que não. Inclusive Natália havia apoiado a idéia. Estranho, mas...

Natália é uma loirinha muito simpática, divertida e gostosa. Ela tinha uma mania de balançar os cabelos repicados, parecia até comercial de xampu. Estava com uma blusa vermelha, decotada, uma minissaia jeans e pés descalços. Quando ela sentava e juntava suas pernas, era irresistível não olhar. Eram pernas torneadas, coxas grossas e brancas, perfeitas para carícias. Marcio é gente fina, gosta de inventar coisas do nada e tem um jeito meio panaca. Aliás, era justamente esse jeito meio Michael Palin que fazia dele um cara divertido.

Assistiram a um filme de suspense. Serial Killers. Os três adoravam. Cervejas e pipocas na sala. Gritos, sangue e terror na tela. Paisagens sombrias, pântanos (aqueles bem típicos do sul dos states), neblinas, cadeiras elétricas, jaulas, doentes mentais e muita insanidade. Depois do filme, começaram as conversas sobre cinema. Natália entendia muito de cinema e adorava Almodóvar. Já Marcio era fã incondicional do Tarantino. Para relaxar mais, Marcio então colocou uns CDs novos que havia comprado e queria mostrar para o seu amigo. Faltavam três pra ele completar a coleção do Rush.

Natália saiu da sala por uns instantes. O papo entre os dois mudou de rock para sexo em questão de segundos. Coisas do mundo masculino. Marcio perguntou se o amigo tinha algum filme pornô novo pra emprestar e então mostrou suas novidades. Gustavo estava com três caixinhas de CDs no colo quando Natália voltou. Ela reparou que Gustavo ficou sem graça e, pra quebrar o gelo, sugeriu que pusesse o tal filme.

Marcio atendeu o pedido inusitado da namorada. Lindas atrizes em orgias alucinantes em cidades oníricas como Paris, Berlim e Praga. Os filmes europeus tinham um charme e um erotismo mais acentuado. Palavras do casal. Todos prestaram atenção no filme por alguns minutos. A partir daí, a conversa girou em torno de sacanagens. Era mais um confessionário de loucuras e fantasias do que os três já fizeram do que uma simples conversa. E muitas gargalhadas. No caso do casal, eles falavam as intimidades em folha corrida. Sem cortes, nem censuras. Isso instigava o tesão e a imaginação de Gustavo, que botava mais lenha na fogueira, contando suas peripécias eróticas.

Natália então sai da sala estrategicamente e Marcio dispara:

- Você já participou de um ménage? Que você acha? Na pilha de fazer um hoje? - Ele ficou espantado ao ser indagado. Não esperava que a sua noite de sábado prometia tanto.

- Cara, já fiz uma vez. (Mentira) Eu até topo, mas depende de vocês. Eu não quero deixar uma impressão de...

- (Interrompendo) Fica tranqüilo. Converso com ela há tempos. Eu já esquematizei tudo hoje. Pensei que você daria pra trás, por isso que não avisei que estava sozinho com ela aqui. Mas o pacto é o seguinte: sigilo absoluto e nada de beijo na boca, porque você sabe, sou muito ciumento. O resto você pode tudo.

Ela então volta, Marcio insinua e ela avisa:

- Depende de vocês... Eu não sei. (típico charme feminino. Estava doida pra fazer uma sacanagem, mas precisava da insistência masculina. Coisa de mulher). Poxa é muita loucura, né?

Natália então saiu novamente da sala, foi tomar banho e voltou para a sala só de lingerie preta. Marcio então pede pra Gustavo pegar uma camisinha, já que a namorada havia esquecido. Força do hábito. Quando voltou para a sala, o casal já estava no “warm up”.

Os minutos corriam na mesma proporção em que os corpos esquentavam. Ela não teria muito descanso. E também não ligava. Ela se revelava insaciável e animada em realizar uma fantasia. Não só a do namorado, como também a dela. Adorava ter dois caras ao seu dispor e não importava se estava no comando, ou se era dominada. Queria levá-los á lona e tinha talento de sobra pra isso. Na sala deixou os caras brincarem: abriram as pernas, davam belo banho de língua por todo seu corpo.

A luz que vinha do corredor entrava naquela sala escura como um feixe amarelado, produzindo uma iluminação indireta, valorizando ainda mais as silhuetas, a pele lustrosa, arrepiada e os contornos. A visão que Gustavo tinha do corpo de Natália era exuberante: seu busto carnudo e branquelo fazia cada vez mais movimentos ofegantes na medida em que ele a beijava, sugava e tocava. O silêncio era quebrado pelas respirações ofegantes e gemidos sufocados e esparsos.

Gustavo penetrava em Natália quando surgiram uns barulhos estranhos vindos do corredor. Passos e portas batendo: a mãe de Marcio estava chegando em casa. Também pudera, já passavam das 4 da manhã. O clima de filme pornô vira comédia pastelão em segundos. Eles então saem correndo em direção ao quarto de Marcio de forma estabanada. Gustavo pegou seu jeans e suas roupas, mas deixou cair logo a cueca, no corredor. Marcio vestiu seu jeans e teve que fazer sala para a própria mãe, desconfiada, tentando disfarçar ao máximo o que estava acontecendo.

Enquanto isso, Natália e Gustavo tinham ataques de riso no quarto. Risos sufocados, claro. Ela fechou a porta do quarto, ligou o ar condicionado e a TV. Ficaram esperando Marcio, que dava atenção á mãe. “A festa foi muito boa, você devia ter ido meu filho! Você nunca mais visitou seus primos em Nova Iguaçu!” As frases chegavam ao quarto e quanto mais a mãe de Marcio falava, mais eles riam, tentando imaginar a impaciência dele. Depois de longos minutos, a mãe de Marcio vai dormir e ele volta pro quarto para continuar a travessura.

Depois do susto, era hora de recompor a brincadeira. Desta vez a iluminação vinha da frieza azulada da TV. Quarto trancado, o ar condicionado ligado e agora, a MTV passando clipes raros e de boa qualidade (pois todos sabem que a sua programação é uma grande merda!). Enquanto rolava Sisters of Mercy e outras coisas do mundinho dark oitentista, Marcio mandava Natália transar com o amigo. Ele era um voyeur assumido e inveterado.

Natália então monta em cima de Gustavo e começa o seu show. Monta, cavalga, rebola, chupa, senta, cospe, bate, lacera, se excita. Arranha o corpo do amigo e põe a mão na boca. Ela agora é quem dominava. Apesar do quarto fechado, do ar condicionado e da TV, poderiam ouvir os gemidos e os barulhos. E como todo mundo sabe do que se trata quando escutam esses barulhos... Ainda mais na quietude absoluta da madrugada.

Depois de uma bela dupla penetração e diversões sem culpa, Gustavo vai á lona e sai de cena. Agora era a vez do “elemento externo” ver o casal em ação. Os dois adoravam saber que estavam sendo observados. Transavam como se tivessem fazendo um filme erótico, mas desta vez, estavam a uma distância medíocre do espectador. O espectador ali era interativo, podia inclusive participar daquela cena. Mas ao invés disso, preferiu assistir a bela cena dos dois transando. Todos estavam excitados na mesma sintonia.

Enquanto eles transavam, os pensamentos de Gustavo corriam em velocidade sônica. Tentava percorrer mentalmente a trajetória que o levou até o presente momento. Imagens e nuances confusas e frenéticas invadiam este tal percurso, entre um cigarro e outro. Não há como controlar o fluxo do pensamento. Era realmente curioso ver como as coisas mudavam de uma hora para outra. Sentia-se como um rei, sentado numa cadeira confortável, vendo os dois amigos se amando loucamente, entre gemidos, mordidas e arranhões, enquanto divagava. Acendeu mais um cigarro pra relaxar. Ele alternava ver a performance do casal e os clipes da TV. Tudo aquilo também fazia a sua mente viajar a pensamentos distantes. Imaginava e constatava como a vida era surpreendente. Horas atrás estava reclamando, aflito, por não se divertir na noite de sábado e agora, estava no meio de uma orgia entre amigos. Jamais imaginaria viver essa situação. Também não imaginava a prova de amizade do casal.

Gustavo despertou de suas divagações ao ouvir o orgasmo de Natália. Já havia fumado uns três cigarros. Os olhares eram confidentes. Sérios. Penetrantes. Apesar de tudo, Marcio e Natalia se amavam. Eles separavam o amor da sacanagem sem problemas. Paixão e erotismo sempre formaram uma bela dupla.

No mais, o trio se revelou bem entrosado. Desencanado. Afinal, não se deve convidar qualquer pessoa para um ménage, é necessário analisar o candidato (ou a candidata) como se estivessem concorrendo a uma vaga de emprego. Rigor, confiança, enfim, nem vale descrever isso aqui. Sabiam que teriam que guardar segredo pra sempre. Assim, a amizade deles entrava numa esfera mais profunda. A troca foi perfeita: Natália e Marcio estavam realizando uma fantasia ao mesmo tempo em que iniciavam o amigo numa nova experiência. O casal sentia confiança em Gustavo e estavam conscientes do jogo, onde a malícia conduz as regras e não há espaço para a ingenuidade. Brincadeiras adultas. Estavam satisfeitos. Realizados.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

LAVAGENS CEREBRAIS Pt.2 - REPETIÇÕES

A repetição é a melhor forma de memorização. Não importa se o objeto é a coisa mais insuportável do mundo, teu cérebro absorve por osmose. Quem nunca se flagrou cantarolando uma música patética, por mais que você a deteste? E os comerciais? Até hoje lembro de vários. Como a gente aprende a tabuada? Há trechos de diálogos patéticos do curso infantil do CCAA, que eu fiz quando tinha 8 anos, ainda ecoando na minha cabeça.

Outro dia estava na academia e óbvio que no som de lá não vai rolar Slayer. O povo bota nas rádios que tocam as mesmas musicas e que se repetem ao longo do dia. Pode ter certeza: as mesmas pessoas pegam o grude musical na Internet, escutam no seu computador, no mp3 indo pro trabalho ou pro colégio, faculdade, trabalho ou viram toques no celular. Lavagem cerebral em massa.

Chego em casa, ligo a TV: o top 10 dos clipes é justamente o mesmo da rádio lá da academia. Eu pensei que estaria livre daqueles grudes pobres e com letras que até uma criança de 5 anos escreve. Ledo engano. O maldito top 10 aparece até nos toques de celular, quando você está naquele engarrafamento matinal á caminho da senzala remunerada.

Era uma noite de sábado e fui com minha namorada para uma boate na Rio Branco, era aniversário de uma amiga. Ao entrar, me deparei com um ambiente ao qual não me sinto muito á vontade, sou um intruso ali. Pista de dança lotada, as biritas subindo a cabeça daquele antro mor de patricinhas e playboys, eis que o “di-jei” me solta uma seqüência mortal: as mesmas de todo o santo dia, mas dessa vez por horas. Se o castigo vem a cavalo, a paciência veio em doses cavalares de pinas coladas, alexanders, camparis, caipirinhas...

Hora de ir pra casa e começar um outro dia, uma outra semana. E então você verá a repetição das mesmíssimas coisas. O jabá massifica, as pessoas decoram, todos se imitam, todos saem felizes nessa orgia de repetições vazias onde a única meta é decorar e consumir.

terça-feira, 8 de julho de 2008

LAVAGENS CEREBRAIS PT.1 - A PAYOLA

Há uma prática terrível que impregnou o mundo da música: “jabá”, ou “payola”, nos Estados Unidos. Pra quem não sabe, o esquema funciona assim: a gravadora – aquele monstro gigante, sujo, feio e mau -, com o intuito de promover o artista queridinho da vez, resolve pagar X pra veicular X vezes a música do dito cujo. Assim todo mundo sai ganhando: a gravadora enfia goela abaixo a música nos ouvintes, alavanca suas vendas os cofres das rádios ficam mais gordinhos. Pra você que não percebe isso, repare só nos famosos “as 10 mais pedidas” ou nas premiações de melhores do ano lá no Teatro Municipal. Eis a prova real. Esse jogo começou muito tímido há muitos anos atrás, mas hoje em dia isso é regra absoluta.

Sempre gostei de rock. Eu era pirralho quando aconteceu a segunda edição do Rock In Rio, mas lembro de muita coisa. No primeiro, só tinha 3 anos. Aquele evento de 1991 no Maracanã foi muito importante pro meu DNA musical, assim como a morte de Freddy Mercury em novembro do mesmo ano. Na adolescência descobri o heavy metal depois de escutar o Paranoid do Black Sabbath em vinil na casa de um vizinho. Desde então, comecei a grudar meus ouvidos no rádio e não parava de escutar estações que tocavam rock. Com o tempo, me liguei que as musicas eram repetidas durante a programação exaustivamente numa seqüência em que mudava só a ordem pra não ficar muito cara de pau. Sem contar que eu percebia que a maioria das bandas que eu começava a conhecer/gostar sequer eram mencionadas. Assim, o dial perdeu mais um ouvinte decepcionado e irritado.

Sempre ouvi dizer que deveria existir rádios para todos os gostos e isso já aconteceu aqui, mas há muitos anos atrás. Alguém se lembra da Fluminense FM, “a maldita”? Não sei muito bem como funciona no resto do país, mas no Rio de Janeiro, o dial é a coisa menos democrática do planeta. Não há rádio rock, nem blues, nem jazz. O espaço aqui é dividido entre pagodeiros chorões, “fanqueiros” metidos a bandidos, MMB – Música Monossilábica Baiana, aquela mesma, das micaretas - rappers americanos metidos a putões, evangélicos histriônicos e uma rádio ou outra de MPB com coisas mais suaves e agradáveis ao aparelho auditivo.

O jabá é uma coisa cruel, assim como o dial “democrático” de uma cidade que adora cuspir pro resto do país que é a “Capital Cultural do Brasil”. Tente você ligar e pedir uma música em qualquer rádio. Eu já fiz essa experiência, quando era “teenager”. Com certeza dará com os burros na água. Você não vai pedir e sim, eles é que vão oferecer as opções impostas pelo jabá.

Não pense você que essa prática fica restrita as estações de rádio. A TV entra na jogada também. Os mesmos presenteados pela “payola” aparecem nos programas de auditório, seus vídeo clipes entopem os mesmos "top 10" da já falida e patética MTV – que de música não tem nada -, ou em outros canais voltados para a música. Sem contar nas premiações “os melhores do ano”, destinados aos mesmos queridinhos da “payola” rançosa. Já reparou que todo ano é a mesma coisa?

Ainda bem que a Internet ainda é democrática e cede espaço a todos, deixando a indústria fonográfica em desespero e despejando discursos vazios. Apesar de tudo, a fórmula sempre deu certo e continua rendendo moedas as corporações. De qualquer forma, a resistência é muito grande e o jabá não vai ter fim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

MEDIDAS DRÁSTICAS

O Brasil ficou assustado com a nova medida nas leis de trânsito: por dois chopinhos você recebe uma punição de 955 reais, carteira de habilitação suspensa, veículo apreendido e de 6 meses a 3 anos de prisão. A medida pretende diminuir drasticamente os acidentes e o número de mortes no trânsito. Parece tudo muito bonito e as coisas vão realmente funcionar de forma ordeira, correto? Errado.

É Hora de encarar os fatos e ilustrá-los para que tudo fique bem bonito pro brasileiro comum, que com certeza vai passar batido por esse blog. Mas se você não é desses “comuns”, junte-se ao bloco dos indignados. Todo mundo sabe que muitas pessoas cometem merdas no volante bêbadas, os números assustam e etc. Óbvio que há uma grande diferença entre uma dose e várias outras: a conscientização e o bom senso, até porque bêbado torra a paciência.

Imagine a cena: o pai de família vai a um almoço, ou comemoração familiar, bebe um vinho – que tem o teor alcoólico maior que a cerveja -, e ao voltar pra casa, é parado numa blitz. É pego no bafômetro e VAI EM CANA: por causa de uma simples taça de vinho. O indivíduo vai pra delegacia, vai ser espancado e depois encaminham o sujeito pra uma cela superlotada, onde estão os piores tipos de criminosos. Enquanto isso, seu veículo apreendido é depenado nas dependências de qualquer delegacia. Então podemos sonegar impostos, gastar a grana alheia, atirar uns nos outros e cometer atrocidades? Os exemplos, por mais absurdos que sejam, respondem afirmativamente a questão.

No mesmo país, um jovem foi assassinado na porta de uma boate no Rio de Janeiro e o sanguinário está solto. Assim como o estudante de direito que atropelou um frentista em Ribeirão Preto, ou aquele promotor que matou outro rapaz numa boate em Santos. Que tal a gente lembrar dos esquemas de propinas, funcionários do governo torrando cartões corporativos, uso indevido do dinheiro público, deputados e senadores livres, impunes e circulando na maior cara de pau? E os grupos de extermínio? Não faltam exemplos de crimes sem o peso do martelo da justiça no Brasil.

O grande problema é que nessa "zona" disfarçada de país, as medidas são paliativas e não se corta o mal pela raiz. A educação é a base de tudo, mas é mais fácil tomar outras medidas. O que veremos é a legitimidade do abuso de poder, policiais fazendo blitz e achacando descaradamente pessoas nos bares e boates. Eu vejo uma repressão nos moldes dos anos de chumbo. Nosso chopinho do fim de semana agora é crime.

Logo, se existissem leis decentes e coerentes no Brasil, não teríamos esse tipo de medida arbitrária. A coisa é simples: cometeu qualquer ato carniceiro no volante, que responda por processos criminais, independente da lei de trânsito. Mas por mais que essa sugestão seja simples para você, ela requer um esforço descomunal pra ser votada no congresso, assim como qualquer lei ou medida coerente capaz de por ordem nesse país. Mais uma vez, o justo paga pelo pecador.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

ZAPPING IDEAS

Faço parte da última geração TV no Brasil. Aquela mesmo, que ficava na frente da dita cuja o dia todo, com babás eletrônicas pela manhã, via o Bozo, brincava com brinquedos da estrela e adorava balas boneco. Não havia TV a cabo, Internet e os vídeo games estavam chegando por aqui. Não havia esse linguajar tedioso de “MSN”, “scraps”, “deletar”, etc. Mandar torpedo pra mim era detonar uns submarinos inimigos no “Seaquest” do Atari 2600 com meu pai.

Nunca gostei muito de TV. Isso pode soar como contradição, mesmo fazendo parte dessa última geração. Gostava mesmo era de desenho, seriados e gosto até hoje. Quando eu descobri a Turma da Mônica e uns “comics” americanos, a TV ganhou um concorrente pra minha distração. Pra ser sincero, sempre fui e até hoje sou mais fã da turminha paulista do Maurício de Sousa (um dia quero conhecer esse cara pessoalmente) do que aqueles yankees arrogantes. O Homem Aranha passa, porque ele é comum, um nerd que rala em busca de seus trocados tirando fotos, mora mal em New York e passa batido na multidão.

O lado legal da caixola é que na TV passa filme. Sempre achei a TV brasileira uma grande merda, salvo raras exceções. Detesto novelas, os jornais só noticiam merdas, odeio fofocas e “reáliti chous”. Fogueira de vaidades nunca foi a minha, sem contar nas grandes merdas que o povo fala e o restante diz amém. Só a TV a cabo salva.

Pra piorar a situação, agora Deus está na TV. Ter que aturar pastores e seus rebanhos contando milagres é demais. Hoje em dia há umas 10 opções de canais religiosos, sem contar os horários que as mesmas seitas alugam na TV aberta. Até os católicos entraram na dança. Hoje em dia a “graça” vem das antenas e via raios gama.

Ah, mas tem o futebol! Sim, um bando de caipira jogando e o melhor é sempre vendido pra Europa. E aturar um bando de paulistas bairristas torcendo descaradamente pros seus times é um saco. O Galvão Bueno também me irrita. O que diverte são os comentários chavões. Prefiro ver os jogos que rolam na Europa, pelo menos os nossos melhores jogadores detonam tudo por lá.

Realmente estamos num beco sem saída. Pra piorar, eu trabalho numa TV. Se isso é um sonho? Pinóia! Salário curto (ainda bem que rolou aumento), sem fins de semana ou feriados. Estar dentro dessa usina de força é bom pra você ver como as coisas funcionam. Se há pessoas que criticam a merda da TV, pode ter certeza que há merdas dentro da usina também.

Nunca gostei muito de TV. Mesmo fazendo parte daquela geração dos anos 80, que hoje está praticamente adulta. Se ela trouxe ou prorrogou a juventude eu num sei, mas que ela cisma em trazer minha velhice é fato. Filmes idiotas, programas imbecis, jornais nojentos, operários e mentores sedados, peladas insones, dias sem folga debaixo de um ar condicionado a 13 graus (pra quem é carioca isso é o pólo sul, acredite!), sem fins de semana, sem feriados, sem família por perto...

Por essas e outras, nunca gostei de TV.