quinta-feira, 7 de agosto de 2008

AUTOBIOGRAFIA PRIMÁRIA

Era um dia calorento. Devia ser a primeira série primária e na primeira semana de aula recebemos a tarefa inaugural. Até hoje me lembro da cena e da tal tarefa: escrever uma redação com o título de “quem sou eu?”. Quem nunca escreveu uma redação dessas quando era criança? Não só lembro disso como da professora, Leila, uma loirinha recém chegada de São Paulo.

Na minha escola a gente tinha um caderno de redação, com folhas cinzas e divididas assim: uma pra rascunho, pra rasurar á vontade e outra pra passar a limpo, sem erros. Como tenho um grande problema de concentração, fiquei um bom tempo disperso, falando e pensando no que eu ia por naquelas linhas. Depois que escrevi a primeira frase, foi difícil parar. Até hoje é assim. Infelizmente lembro de muito pouco do que rabisquei, mas todas as vezes que encontro um “quem sou eu” pela vida, me lembro da sala de aula na primeira série.

Ao navegar na Internet e ver diversos perfis e blogs, percebi que reescrevemos nossa singela redação de primário ao longo da vida. Hoje em dia, você escreve sua autobiografia em perfis de sites de relacionamentos, ou joga tudo na mesa de bar entre amigos depois de várias cervejas. Se você está em busca de emprego, é claro que não vai dizer que é de Sagitário, torce pro Botafogo e gosta de Woody Allen.

Há uma tênue linha entre duas questões: “quem sou eu?” e “o que você já fez na vida?”. Pode ter certeza que essa confusão rolou lá na primeira série com a Tia Leila. É comum esse tipo de confusão, visto que uma influencia a outra diversas vezes. Procurar definir em poucas palavras nunca é o suficiente, mas também vale á pena. Ainda bem que existem os signos do zodíaco, que facilitam – pelo menos pra mim -, muita coisa.

De qualquer forma, essa é uma redação em constante mudança.

Um comentário:

Fernando Silva disse...

É, Beatnick, o bagulhete do bagulhame é sinistro. De fato, escrevendo você começa a se aprofundar em seus pensamentos, vastos de imaginação e realidade, magnetizados por um grande alvoroço, a sua mão. Ela traduz aquilo que você pensa, para o bem, para o neutro e para o mal.
Ai, que nostalgia dos tempos de escola...depois que cresce, todo mundo fica chato.