sábado, 4 de julho de 2009

MEMÓRIAS DELETÁVEIS

Com a velocidade em que as coisas ocorrem nos dias de hoje, as nossas memórias e registros a cada dia se tornam mais descartáveis. Nos livramos das imagens muito mais fácil do que antes. Parece contraditório se percebermos que o número de fotos e vídeos provavelmente tenham quadriplicado em relação ao somatório das últimas duas décadas. Mas naquela época tudo era analógico e o mundo parecia andar mais devagar.

Basta ter como exemplo a fotografia, ainda mais usada como registro de imagens, memórias, momentos, o que seja. Eu me lembro muito bem que levávamos - e isso não tem tanto tempo assim -, máquinas analógicas grandes, daquelas que era necessário um filme com número X de poses para eventos importantes. Tirávamos as fotos, fazíamos poses sem direito a segunda chance. Não existia aquela coisa de "deixa eu ver como ficou" e "deleta e tira de novo". Revelávamos as fotos e dias depois estavam todas no álbum, inclusive as reprováveis, com poses estranhas, risíveis e tudo o mais.

Tudo mudou. Clicamos pra frisar a imagem. Gostou? "Control C" e guarde numa pasta em um PC qualquer. Não gostou? Delete e tire de novo. A dinâmica é outra. Não há mais X poses por filme e sim tantos "mega" de espaço e tantos "pixels" de qualidade. Não precisamos de mais negativos para duplicação. Os álbuns de fotografia são pastas de arquivos num PC. Não nos reunimos em volta dos álbuns já que agora está tudo no computador. Deletamos, duplicamos e armazenamos como bem entendemos.

Ao que parece, as facilidades que a tecnologia nos trouxe transformaram os registros e memórias em algo meramente descartável. Não que no passado não se jogava fora, mas isso era algo mais difícil de acontecer. Não nos reunimos com nossos amigos e parentes para degustar e lembrar dos fatos em volta dos álbuns. Deletamos. Copiamos. Colamos. Esquecemos e nos distanciamos na velocidade dos avanços.

3 comentários:

Fernanda Cockell disse...

Eu sempre pensei nisso...em como as coisas estão simplistas...e em como isso tira o prazer, o sentimento, o brilho de certas coisas...já parou para pensar: não existe mais aquela emoção de mandar revelar um filme e aguardar com aquela curiosidade para ver como ficaram as fotos e olha lá: vc com uma cara ridícula...já dei tanta risada...já saí tanto de olhos fechados...mas acabou.

Fernanda Cockell disse...

Saudades do mundo analógico...=[

Fernando Silva disse...

Tempos modernos. 24h é pouco. E também tenho saudade da Polaroid analógica...