terça-feira, 8 de dezembro de 2009

RINITES COTIDIANAS - CIRCUITOS FECHADOS

"Ele desvia das pessoas rapidamente em meio a hora do rush. Seu trajeto pela Carioca parece uma costura torta. Tentava sem sucesso fugir da multidão ou esbarrar nas pessoas, precisava chegar logo em casa. Seus pensamentos eram um turbilhão intenso de imagens, sons e sentimentos. Como um espasmo ou até mesmo uma intervenção divina, ele para no meio da Rio Branco e olha o relógio: 18:27. Mais três minutos e ela sai daquele prédio e vai pra casa, pensou. Como será que ela está? Com que roupa ela foi hoje? Será que pintou os cabelos? Reforçou as mechas? Que esmalte? Que sapato? Scarpin preto? E um novo furacão de lembranças quase sinestésicas o atormentava.

Tinha mais de dois meses que o relacionamento havia chegado ao fim mas, independente disso, ela nunca saiu de sua mente. Não importava o que fazia ou onde estava. Lembrava dos momentos quando passava pelos lugares em que estiveram juntos, nos bares ao ver casais - principalmente ao ver mulheres de tipos semelhantes ou mesma cor de cabelo - ao escutar uma música, independente de ser no ônibus, na tv, no trabalho ou na academia. Era sempre aquela lembrança, aquele perfume e o baque na boca do estômago.

Precisava de válvulas de escape. Era hora de mergulhar nas aventuras, na putaria. Frequentar inferninhos, cair na solteirice, tentar ser cafajeste. Tudo era válido: strippers, biritadas e filmes pornôs. Resolveu então procurar atrizes que em nada se pareciam com a ex. Mas a mente dava cãimbras, trapaceava: sempre aparecia uma garota semelhante àquele anjo do Andaraí. Filmes eróticos já não eram suficientes, as comparações eram inevitáveis, conhecia bem cada pedaço daquele corpo, inclusive as medidas exatas daquela escultura. Não fazia diferença se era loira ou morena, as 39 polegadas de quadril estavam sempre presentes. Sentia uma ponta de orgulho quando os amigos deliravam com alguma puta de catálogo online ou rasgavam elogios a alguma atriz pornô parecida com a sua ex-namorada. Quanto mais fugia, mais ela atormentava.

A agonia não parecia ter fim. Já não podia olhar aquele ensaio fotográfico com a gostosa do mês na internet, ou a mais nova capa de revista. Quanto mais ele fugia, mais ela assombrava. Não escutava mais Alice in Chains. Evitava a Cinelândia. Evitava sites eróticos. Evitava perfumarias, J'Adore, Nina Ricci. Não bebia mais Sex on the Beach. Evitava Flower Tucci, Alexis Texas. Cansado e ciente de que precisava de um subterfúgio para curar a ressaca amorosa com urgência, decidiu apelar pro velho serviço de acompanhantes e estava disposto a pagar uma quantia bem cara.

Passava das oito da noite quando entrou no prédio da Barata Ribeiro e foi direto ao sexto andar. Precisava aliviar sua tensão com uma profissional e teria uma hora para relaxar e esquecer o fantasma loiro que o perseguia. Monique o aguardava vestindo uma imitação de scarpin, meias 7/8, cinta-liga e lingerie. Tudo preto. Ao abrir a porta, soube como ela estava. Soube ao menos com que roupa esteve hoje. Mesmo scarpin. Mesmo perfume. Mesmas medidas. Mechas pretas. Esmaltes vermelhos. Nome diferente."

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