quarta-feira, 18 de junho de 2008

LÚBRICAS INTERSECÇÕES

Ricardo é um rapaz recém formado em Turismo e se preparava para fazer o exame de Cambridge, depois de anos freqüentando o curso de inglês. Apesar do diploma embaixo do braço, colecionava frustrações e um certo arrependimento por ter escolhido esta área de atuação. Tinha a consciência de que se não tomasse cuidado, passaria a vida inteira nessa profissão, perspectiva essa que não agradava em nada o pobre garoto. Mesmo assim, diferente da maioria de seus colegas formandos desempregados, estava trabalhando na área em que se especializou. Este fato servia como consolo, assim como as gorjetas que ganhava em dólar, em euro ou qualquer moeda que valesse mais que o real.

Apesar de tudo, Ricardo andava exausto. O desgaste já invadia outras áreas da sua vida, como o relacionamento conturbado com seus pais, a falta de tempo para si e para o seu namoro e a grana apertada. Ricardo namora Simone, uma garota que toda a mãe queria ter como filha: bem sucedida, estudiosa, recém formada, uma advogada de futuro promissor... Enfim, tudo o que o garoto procurava para a sua vida profissional.

Dia de trabalho para Ricardo. O garoto, que trabalhava em Copacabana na altura do posto seis (3 ou 4 estrelas, não importa) teria mais uma daquelas noites entediantes de sábado, onde veria todos saindo para se divertir e o “otário” indo ganhar seu pão. Pelo menos era assim como ele se sentia, pegando o ônibus que saía do Méier e atravessava a cidade. Seu amigo de jornada era um velho discman, geralmente com CDs do Napalm Death. Ele já conhecia até os rodoviários que faziam plantão no horário da madrugada.

Já estava chegando no limite da paciência. A cada dia que passava, a pressão aumentava. Simone querendo se casar o mais rápido possível (até porque só faltava isso, um casamento e filhos) e pedindo mais tempo para ficarem juntos as famílias pressionando, as contas aumentando, os pais de Ricardo reclamando de tudo, problemas de saúde... E ele no meio do fogo cruzado.

Já fazia muitos meses que Ricardo não saía sozinho. Tampouco dava as caras em farras com os amigos. Mas Ricardo assinaria a sua carta de alforria naquela noite. Ele precisava de uma válvula de escape urgente. Se a sua família e sua namorada não davam ouvidos para suas insatisfações, ele teria seu momento de catarse. Como sairia de madrugada do serviço e só encontraria Simone para o tradicional almoço de domingo, estava livre para enfiar o pé na jaca. Afinal, as ruas de Copacabana têm aquele clima de putaria, libertinagem. É quase impossível descer as ruas do bairro e não pensar em tomar um trago ou catar uma garota de aluguel. Era hora de chutar o balde.

Ele sai do trabalho e então desce Copacabana até o posto dois, próximo da Princesa Isabel. Depois de um dia (ou noite?) de trabalho, era a hora de tomar uns drinques, ver belas garotas e fumar um cigarro. Ali se encontram alguns dos mais badalados puteiros do Rio. A rua está repleta de turistas imbecis embasbacados com o enorme rabo das mulatas, um burburinho nervoso de pessoas alcoolizadas falando alto, barulho de copos se chocando e várias putas em busca de um programa. A última vez que pisou ali foi quando ainda era solteiro, ou seja, há mais de dois anos, com um amigo. Quando se lembrou da última vez que estivera ali, sua consciência automaticamente forçou o gesto de afrouxar a gravata e desabotoar o paletó. Ricardo sabe que está chamando a atenção das garotas. E como ele se diverte vendo aquelas cenas. Estava se sentindo como um exilado de volta ao seu lugar de origem. Nessa rua, algumas garotas tentavam ganhar um troco para se formarem pelas faculdades mais caras do Rio e pagar seus aluguéis em belos bairros cariocas. Outras, estavam ali tragadas pelo vício ou esperando a oportunidade de zarpar pro primeiro mundo. É a sucursal do inferno.

Ao entrar numa das boates mais caras e badaladas da rua, deu de cara com uma mulher bastante interessante. Ela usava óculos, aparentava ter uns 35 anos, tinha cabelos castanhos na altura do ombro e estava sentada isolada no canto. Ela possuía uma aura misteriosa e sedutora. Trocaram alguns olhares, mas ao invés dele sentar-se à mesa, foi pegar um drinque. Mesmo assim, reparou que a tal mulher não parava de secá-lo. Percebendo que a barra estava limpa, decidiu sentar-se à mesa e puxar conversa. A dita cuja se chamava Luciana e tinha muitas coisas para falar naquela noite.

A conversa começou com surpresas. Se Ricardo espantou-se com o fato de Luciana não ser garota de programa, a mesma achou curioso como alguém que nem ele estava ali á procura das ditas cujas. Ricardo aceitou o comentário como um elogio. Não demorou muito para que a coisa se dirigisse para assuntos mais pessoais. Foi aí que o clima realmente começou a esquentar.

Luciana explicou primeiramente o porquê de estar ali: primeiro, não era nem lésbica e tampouco puta e segundo, estava espionando o seu marido. Seu casamento de seis anos estava em crise. Discussões, mais discussões, ausência, carência, falta de afeto e principalmente, sexo. Desconfiada da ausência do marido, decidiu ver o que o tal fazia tanto na rua. A mulher seguiu o carro do marido e viu onde estava. Luciana entrou e desafiou o marido, dizendo que o próximo cara interessante que entrasse naquele recinto, ela flertaria e o levaria para fora dali. Tiveram uma discussão discreta porém bastante calorosa. O tal marido não levou a sério e já estava caçando alguma puta para aquecer a sua cama quando o que Luciana mais queria naquele momento de fato aconteceu. Luciana não perdeu tempo e perguntou para Ricardo se ele demoraria muito lá. Ele não hesitou, pagou a conta e quando percebeu, em menos de 20 minutos já estava no carro de Luciana e no meio da tempestade.

Somente após sair da boate foi que Ricardo realmente reparou aquilo que a escuridão da boate ocultava, em termos. Traços corpulentos que agradavam em cheio. Luciana era uma branquela, de quadris largos e bustos fartos e algumas neuroses.

Primeiro, vão até o Flamengo, onde ela mora e pede para Ricardo aguardar no carro, enquanto ela subia até o seu apartamento. Precisava pegar uns “acessórios” para apimentar a noite. Cerca de 10 minutos depois, ela desce e após tascar um beijo “caliente”, pergunta de forma irônica e maliciosa se Ricardo conhecia algum lugar para ficarem juntos. Como já passava das três horas da madrugada, Ricardo não pestanejou em guiá-la até um motel em Botafogo.

No motel, ela tratou logo de ligar a banheira de hidromassagem. Enquanto a banheira enchia, tirou os tais acessórios e perguntou se Ricardo gostava de maconha. Ele aceitou dar um tapa, mas foi ela quem apertou praticamente tudo. Seu marido não gostava da erva e então ela fumava escondida dele. Não satisfeita, preparou outro com os guardanapos do motel. Após apertar mais um baseado, fez um belo strip-tease e entrou na banheira.

Na empolgação do momento – pareciam dois adolescentes -, se esqueceram da camisinha. Luciana, então liga e pede uns preservativos mas se esquece de se vestir. Ricardo achou graça quando o garçom tocou a campainha da suíte e Luciana, estabanada (efeitos da maconha?), se enrolou numa toalha de rosto achando que aquilo esconderia seu corpo. Cena patética. Mesmo que se enrolasse numa toalha maior, seria impossível não reparar naquele corpo. Ela realmente chamava a atenção pelas suas medidas avantajadas.

Depois de uma boa preliminar, onde Ricardo procurou aproveitar cada pedaço daquela mulher e Luciana finalmente sentir excitantes toques e lambidas que a arrepiava toda, transaram. A maconha ajudou bastante no desempenho do casal, que transava na base da selvageria. Luciana era bem safada e decidida. Montava e cavalgava freneticamente. Gostou de saber que a vítima tinha a ferramenta maior que a do marido. Ela tomava iniciativa, batia, arranhava, gritava, gostava de dominar e tinha experiência, o que ajudava muito. Estava insaciável na cama, como se não transasse há muito tempo.

Na mente de Ricardo, os pensamentos corriam como um filme em “fast forward”. Imaginava todo o trajeto percorrido até aquela suíte em Botafogo, seus problemas, que diluíam cada vez que metia na mulher, a louca história de adultério, a traição que estava cometendo, além de questionar-se como estava com aquela mulher maravilhosa na cama. (convenhamos: que marido mais trouxa!) Estava aproveitando cada segundo daquele momento.

Depois da farra, tomaram banho juntos. Luciana era uma pessoa intrigante, boa de se conversar, pois tinha uns assuntos muito interessantes. Parecia ser uma mulher muito carente, de poucos amigos. E aos poucos revelava uns desequilíbrios. Depois de relaxarem, Ricardo olhou para o relógio, que já marcava 6:30 da manhã. Assustado, começou então a se vestir. Luciana intrigada, perguntou:

- Por que você está se arrumando? Que você vai fazer? Não tá gostando? Ainda não acabei. Fica tranqüilo que eu te levo em casa.

- Desculpe, mas tenho que ir. Adoraria ficar mais um pouco, mas não posso. Infelizmente eu trabalho hoje.

- Que pena...Logo hoje que eu te levaria a loucura! Não acredito no que eu estou vendo...Você não sabe o que ta perdendo...

Luciana não ficou lá muito satisfeita e partiu para o ataque. Queria mais. Ricardo não resistiu e ficou mais um tempo. No final, decidiu ir embora. Luciana insistiu em dar carona, mas Ricardo alegou que morava muito longe. Na verdade, Ricardo estava receoso de que Luciana fosse uma mulher possessiva e neurótica (o que era de fato, a intuição não falha!) a ponto de procurá-lo no Méier (isso provavelmente aconteceria). Preferiu sair pela tangente.

Despediram-se. Ricardo desceu as ruas de Botafogo em direção a orla e pegou o 455. Já despontava uma linda e ensolarada manhã de domingo, onde velhinhos desciam para comprar pães na padaria, jovens caminhavam para a praia e outros chegavam em casa depois de uma noite de algazarra, excessos, sexo, drogas e rock and roll.

Um comentário:

Aniclay Ferreira disse...

Mesmo nunca tendo ido ao Rio, pude ouvir daqui os copos, as garotas de programa se insinuando em Copacabana. Hoje em dia é mais fácil perguntar quem ainda não traiu...