domingo, 15 de junho de 2008

TRAIÇÕES FRATERNAS

Adriano namorava Fernanda há quase um ano. Neste mesmo tempo de relacionamento, teve como companhia em mesas de bares além dela, claro, sua cunhada, Ingrid e seu respectivo namorado ou algum trouxa da vez. Não era sempre que isso ocorria, mas havia uma freqüência regular. Quando não era Ingrid, era algum casal de amigos, ora de Fernanda, ora de Adriano. Claro que o casal saia sozinho também. Não demorou muito para que Ingrid, mais saidinha, e Adriano, construíssem uma certa afinidade.

Ingrid era baixa e bem diferente da sua irmã. Tinha cabelos ondulados e um jeito de garota bem interesseira, daquelas que procuram o golpe perfeito. Tinha a cara da Gwen Stefani. Era bem desorganizada e relaxada. Gastava horrores com tintas para cabelo. Deveria ter alguma cisma, uma síndrome de Cindy Lauper ou Madonna. Material Girl poderia ser seu apelido, sobrenome ou até mesmo rótulo. Era uma garota materialista e interesseira. Costumava transar e eventualmente namorar caras que de preferência buzinassem na portaria do seu prédio para buscá-la. Sair e voltar a pé pra casa depois da noitada era um crime para ela. Sentia uma ponta de inveja dos relacionamentos estáveis da irmã mais velha, Fernanda, mas não demonstrava. Costumava arrotar bem alto que “homens não prestam e devem ser todos usados”. Era uma baita Maria-gasolina, safada, sempre a procura do golpe perfeito. Traia seus namorados a torto e a direito. Quanto mais velho, mais babão - o que ela adorava -, melhor, pois podia pintar o sete com os idiotas. Não valia porra nenhuma. Fidelidade era uma palavra sem sentido em seu glossário. O que valia eram os valores materiais, como uma bela moto, carro e uma conta bancária bem gorda que pudesse satisfazer suas taras consumistas. Seu namoro era com o cartão de crédito dos outros. Orgasmo, só com o carro, a moto ou a conta bancária dos babacas que ela arrumava.

Já sua irmã mais velha, Fernanda, era exatamente o oposto: metódica e organizada. Tinha caráter. Trabalhava, tinha sua grana, era bem honesta e não ligava se o cara tivesse ou não um carro, embora volta e meia reclamava porque Adriano não tinha um. Isso sempre gerava discussão. Ele ficava revoltado, pois não gostava das idéias da sua cunhada, que pelo visto já contaminava um pouco a mente de Fernanda. Mas era só paranóia, não havia motivos para ficar preocupado. Fisicamente, era diferente de Ingrid por ser mais alta e também não ter a obsessão da irmã em ficar loira. Era bem mais bonita justamente por não ser vulgar. Corpulenta, sensual, tinha um charme envolvente, sem apelações. Outro grande problema eram os problemas psicológicos de Fernanda: insegura, neurótica, de arrumar coisas onde nada existe, complexada e tinha pavio muito curto. Sempre foi uma dinamite ambulante, sem motivo aparente. Seu ciúme doentio a transformava em outra garota, dava ataques, falava alto e gesticulava. Seu ciúme era daqueles em que você nem podia olhar para o outro lado. Era uma neurótica de carteirinha.

Ingrid estava novamente sozinha. Pegou seu namorado no flagra e decidiu acabar o relacionamento. O feitiço caiu contra a feiticeira. Seu namorado, com vinte anos a mais do que ela havia trocado sua presença por uma bela quarentona de Ipanema, logo, com uma conta bancária bem gorda, além de ser da mesma faixa etária do cara. Ela estava bastante revoltada com a situação e, para apaziguar os ânimos, decidiu dar uma volta, beber e tentar ficar com o primeiro otário que surgisse na sua frente. Preparou-se para a caça: meia arrastão, bota de 15 centímetros, um decote ousado, minissaia e jaqueta de couro, batom vermelho e litros de perfume. Foi então a caça de mais outra vítima. Ou de algumas doses para esquecer a decepção.

Fernanda e Adriano andavam brigando muito, ao mesmo tempo em que Ingrid reparava bastante no cunhado. Ele até percebia, mas não dava tanta importância. As discussões tinham geralmente uma semana de intervalo. Mas com o passar do tempo, esses intervalos foram diminuindo, o que transformava o namoro numa batalha. Fernanda estava muito ciumenta, dava ataques na frente de todos. Tinha o dom de transformar as coisas numa problemática sem motivos. Era tempestade num copo d’água. Na última, pegou umas mensagens no celular que Adriano recebeu de uma amiga do trabalho. Fernanda respondeu xingando a garota de vadia pra baixo, causando uma confusão tremenda. Ele conseguiu contornar a situação, mas já estava perdendo a paciência com os ataques de ciúmes. Fernanda já rasgara fotos de amigas e primas. O conto não caminhava muito bem para os dois. O relacionamento chegava ao desgaste.

Foi então num sábado à tarde que Adriano ligou para Fernanda. Precisavam aparar as arestas. Quem atendeu ao telefone foi Ingrid, com aquela voz suave, rouca e ao mesmo tempo, sensual. Ela então avisou ao cunhado que sua namorada não estava em casa. Assim, começaram a conversar sobre amenidades e o papo rendeu o suficiente para que Ingrid sugerisse que o cunhado viesse e esperasse Fernanda em Vila Isabel, onde as duas moravam. Adriano então concordou e foi para o apartamento delas, sabendo que o papo renderia uma conta bem cara no final do mês. Caiu direitinho na lábia da cunhada.

Ingrid sabia que sua irmã demoraria bastante e que Adriano estaria em Vila Isabel em 20 minutos. Quando ele chegou, deparou-se com Ingrid vestindo apenas um top branco bem decotado, um short preto bem curto, cabelos soltos e olhar penetrante. Sem lingerie.

Após falarem sobre o cotidiano, Ingrid começou a falar sobre sua vida pessoal. Não parava de reclamar. Parecia uma metralhadora, não parava de cuspir. Acendia um cigarro atrás do outro, parecia uma chaminé. Depois, falou abertamente sobre a sua vida sexual. Descrevia os mínimos detalhes. Adriano sempre achou que Ingrid só chegava ao orgasmo quando sentava na garupa de uma Harley-Davidson, de tão materialista que era. Uns broxavam, outros trepavam mal, poucos fizeram ela gozar. Reclamava sem parar do ex-namorado e cismava em dizer que homens eram safados e todos iguais. Obviamente, Adriano discordava. Sua réplica era repleta de clichês, dizendo que nem todos eram assim, que estava equivocada e que precisava rever conceitos e bla bla bla. Enquanto isso esperava inocente pela namorada, que custava a chegar. O que amenizava era o bom papo que batia com a cunhada, porque se não fosse isso, já teria desistido de esperar.

Já Ingrid afirmava incessantemente que os homens não valiam porra nenhuma e perguntava o que ele faria se uma mulher o seduzisse longe de sua namorada, sem que ela soubesse do fato. A pergunta era capciosa, delinqüente e perigosa. Ingrid era esperta e tentava não deixar o ambiente parecer como se fosse um teste de fidelidade, até porque aquilo aparentemente não passava de uma simples e apimentada conversa entre cunhados. Ela cruzava as pernas, esbarrava no cunhado, provocava. Roçava os braços e os pés. Era inevitável não reparar naquelas pernas lisas e torneadas que Ingrid propositalmente exibia. Adriano negava tudo, mas não percebia que Ingrid cada vez mais se aproximava. Ela acariciava, tocava, alisava os cabelos e provocava cada vez mais.

A cada minuto que passava, cada frase maliciosa dita naquela conversa, Ingrid se aproximava. Ela sabia que Adriano não resistiria as suas provocações. Após as insistentes esquivas do cunhado, Ingrid saltou e deu um beijo. Ele se desvencilhou e perguntou se estava louca. Ingrid sempre gostou do perigo, abriu um sorriso malicioso, respondeu afirmativa e montou em cima de Adriano, que não resistiu. Deu um beijo sufocante, enquanto arranhava o peito.

O clima esquentava na medida em que os minutos corriam, as mãos percorriam freneticamente os corpos que ficavam cada vez mais suados. Os peitos nus se encostaram e ele sentia aqueles seios firmes e dilatados de Ingrid, que instigavam ainda mais. O risco de Fernanda aparecer a qualquer momento e pegá-los no flagra dava um tesão ainda maior. Já não havia mais como resistir àquela loira insaciável. Ingrid abriu violentamente a calça do cunhado e começou chupá-lo. Adriano nesse instante já começava a comparar mentalmente as irmãs, assim como sua cunhada faria de tudo para prová-lo como era melhor na cama do que sua irmã mais velha. Típica disputa.

O olhar de Ingrid era penetrante e agressivo. Os dois se engalfinhavam como dois animais. Arranhões, tapas, mordidas. Rastros perigosos. Ele então resolveu entrar na brincadeira das comparações para ver até onde chegava o limite da cunhada. Quanto mais ele dizia que Fernanda era melhor, mais instigada ficava a garota. Ingrid parecia um vulcão em erupção, era como se não transasse há tempos. Talvez por isso reclamava tanto. Entraram no quarto de Fernanda e transaram ali mesmo, na cama da irmã, da namorada. Sem culpa.

Ingrid cismava no “jogo da comparação”, e achando que sua irmã jamais fizera sexo anal com o namorado (era muito certinha para tal coisa, pensou) desandou a sentar freneticamente. Ao ver a face de Ingrid suja de esperma e sorridente, sentiu-se realizado e constatou de uma vez por todas que sua cunhada era mesmo uma tremenda devassa. Não havia limites. Esta era uma prova real que deveria permanecer em segredo.

Arrumaram o quarto. Sumiram com os vestígios, pois crimes perfeitos não deixam suspeitos nem pistas. Como num milagre, minutos depois chegou Fernanda, toda sorridente, feliz com a visita surpresa do seu namorado. Agora, olhares e sorrisos ganharam outros significados. Adriano e Ingrid já estavam recompostos, fumando e conversando como duas pessoas civilizadas, como se nada tivesse acontecido, mas cientes de que precisavam guardar um segredo para sempre. Eram cúmplices de uma trama cínica e sórdida, mas bem divertida. Fernanda não imaginava quão puta era sua irmã. E tão mentiroso e mau caráter era o seu namorado.

2 comentários:

lainevidal disse...

Poor girl.Foolish girl.

Fernando Silva disse...

Tu é o novo Nelson Rodrigues, hahah!!! Muito bom!!