quinta-feira, 19 de junho de 2008

O DILEMA DA DIETA

Precisava emagrecer. 20 quilos. Então, entrei num regime que a cada dia ganhava características de abstinência. Pra ajudar no processo de emagrecimento, entrei na academia. Tive que trocar noitadas de cerveja, torresmo, tardes de sorvetes, por saladas, suor e esteira.

Depois de uma hora gastando calorias pra emagrecer e moldurar o corpo roliço saio da academia com um desejo mórbido por sorvete. E Brahma Black. Uma mulher havia me dito que havia um clube barato pra fazer natação. Caro ou barato, eu teria que subir o Méier e atravessar por milhares de padarias e lanchonetes até chegar lá. A carne é fraca e o estômago mais ainda. Cérebro de gordo é suscetível à comilança.

Vou até o portão de casa e paro. Dou meia volta e saio de novo. Olho pra trás (conseqüência da paranóia (sub) urbana) sempre achando que alguém observou meus passos e constatou a minha sandice. Hora de encarar os fatos e dobrar a esquina.

A Dias da Cruz está lotada como sempre mas como era época de natal, o trânsito, tanto de pedestres como de veículos triplica. Não ando nem cinco minutos e uma máquina de casquinha de sorvete a um real logo de cara. Metros depois, um McDonalds. Lá não aceita sodex, só grana. Lembro-me que sobrou muito pouco do meu 13º salário e passo adiante. Estou resistindo o quanto eu posso.

Atravesso a rua e dou de cara com uma padaria. Aí é covardia. Acabo de sair da academia, preciso perder peso, reeducar a alimentação e aparece justo uma padaria? Doces, tortas, salgados, frituras. Quanto maior abstinência, maior é a tentação. Mas vamos em frente.

Chego ao shopping e esqueço o motivo da caminhada. De um lado, um Bob’s lotado aceitando meu sodex e vários milk shakes e hambúrgueres nas fotos do cardápio. Do outro lado, um quiosque da Brahma repleto de pessoas sorridentes, livres, sem fazer dietas, bebendo aquele chopinho gostoso de fim de tarde. As imagens dos milk shakes, chopes e sorvetes agridem meus sentidos assim como os nazistas na Polônia. Respiro fundo, recapitulando tudo, dou meia volta e entro na livraria.

Alívio. Numa fração de segundos as revistas e os livros me fazem esquecer por completo o demônio da gula. Vejo um Nelson Rodrigues na prateleira. Chopes, cervejas, sorvetes, frituras e aquele mundo rico em glicose e gordura cedem espaço as revistas e a Bukowski, Lawrence, Quintana, Agatha Christie... Mergulho de cara nos “pocket books”, namoro os preços e vejo que se gastasse ali meu 13º, que já respirava com ajuda de aparelhos, teria sua eutanásia na livraria. Comprei mais um “pocket book”, não fui a tal academia ver a natação e voltei com a alma contente pra casa. Melhor gastar com um livro do que com as guloseimas ou naquelas padarias. Volto pra casa feliz por ter resistido bravamente e como agradeço aquela livraria. Até porque livro não engorda!